segunda-feira, 27 de setembro de 2010




Hoje eu bem que queria ter uma River Court pra pintar.

domingo, 26 de setembro de 2010

Sabe o que mais me entristece sobre a morte? Tudo.

Parece que alguma coisa aperta o meu coração com as duas mãos e eu começo a me afogar. Essa descrição sem sentido é a melhor que eu consigo encontrar. Acabou. Não importa quantas teorias do descanso eu ouça, só consigo acreditar no Jim Morrison. "This is the end, my dear friend". E nada mais faz sentido. Se alguém diz que sente muito, não me diz nada, porque quem sente muito sou eu. Eu é que tenho uma coleção de vidas perdidas dentro do armário e, ainda assim, nunca me senti mais hábil a lidar com isso. O que não me mata não me fortalece. Sempre fico tão perdida que parece que alguém apagou a minha luz, e aí me irrita o fato de que o mundo dos outros continua claro e em movimento. Me parece injusto.

Miss you, buddy.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Primavera

Não consigo explicar o que eu sinto quando começa a primavera. Só sei que acho que estou num daqueles desenhos da Disney, com todos os passarinhos da cidade me ajudando a arrumar a casa. Acontece que, ao invés daqueles montes de "A's", eu tenho vontade de cantar Casa Pré-fabricada.

"Abre essa janela, a primavera quer entraaar
Pra fazer da nossa voz uma só nooota" ♪

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Eu tenho tanta vontade de te abraçar, que os meus braços tendem a desenhar o velho "c". Quando percebo, já estou agarrando os pulsos e imaginando como ficaria apertado se você estivesse ali no meio, nesse espaço vazio que eu levo entre as mãos e o coração.

domingo, 19 de setembro de 2010

"Será que, à medida que você vai vivendo, andando, viajando, vai ficando cada vez mais estrangeiro?

Deve haver um porto."

Caio F.

sábado, 18 de setembro de 2010

Surpresa

Sempre me pega de surpresa. Da primeira vez, estava lá com os amigos. Se apresentou e me viu corar em segundos. Nem percebi que tinha dito em alto e bom som:
- O quê? Esse é o teu nome?
Era um nome tão estranho...
Ele riu com tanta calma que parecia querer me abraçar e dizer bem baixinho:
- Tá tudo bem.

Da segunda vez, o vi naquela fila imensa. Meus olhos brilharam forte.
- Olha! Eeeei, olha! Aquele menino parece o Victor Bagy!
E parecia mesmo. Mas não percebi que era o menino do nome estranho. Tiveram que me contar. E aí já não me parecia mais tão conveniente chegar e dizer "oi, como vai?".
Deixei passar.

Da terceira vez, sentou-se ao lado de uma garota. Sentei-me logo atrás e tentei descobrir se era ele por cima dos ombros e pelo reflexo da janela. Quando constatei, senti um frio entre o estômago e o coração. Não entendi o porquê.
Ele sorriu com a mesma calma de sempre, mas não pra mim. Depois colocou as mãos em cima do caderno da menina e explicou o cálculo. Não sei se tudo ficou tão complicado por causa dos números ou por causa do metal no anelar da mão direita.
- Ai!
Doeu. Falei com ele uma só vez e, de repente, doeu. Acho que foi porque o meu nome não estava lá, arranhado no metal polido. Ou porque não era mais eu quem se sentava ao lado. Só sei que me pegou de surpresa, usando o meu tipo de cachecol preferido, e doeu.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Só a imortalidade explica



Os dicionários invariavelmente definem o substantivo “grêmio“ com uma só frase. Os mais tradicionais costumam afirmar que se trata de um “grupo de pessoas reunidas em torno de um mesmo objetivo”, o que torna tudo muito simples e didático, porém, insuficiente se falarmos do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense.
Para os que amam o manto azul, preto e branco, definir o Grêmio é uma tarefa árdua. O time pelo qual mais de sete milhões de corações torcedores batem por todo o país desafia a lógica e a racionalidade. Há quem diga que Grêmio é sentimento. Há quem diga que é doença. Há quem diga que é tudo e mais um pouco, porque pensar no tricolor gaúcho é pensar na imensidão.
O Grêmio nasceu em 1903. No mesmo ano morreu o pai de Hitler, nasceram George Orwell e Candido Portinari, as mulheres abusaram do tom pastel e a primeira versão cinematográfica para Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll, foi produzida.
Só nasci 88 anos depois e ainda levei mais quatorze anos para provar da imortalidade pela primeira vez. Quando se é criança, as coisas não fazem muito sentido. O que é uma partida de futebol? 22 homens correndo atrás de uma bola? Só pude compreender no dia em que 22 viraram 18.
Era 26 de novembro, fazia sol e a batalha acabara de começar. As camisas azul-celeste estavam todas lá cumprindo a promessa: com o Grêmio, onde estiver o Grêmio. A bola rolou e, se ficava por muito tempo nos pés do adversário, até ateu rezava. Todo mundo parecia implorar pra Deus ser gremista naquele dia. No campo os jogadores pareciam sufocados. Só não se sabia se era por causa do presente da casa - a tinta fresca com querosene e gasolina no vestiário - ou porque o campeão do mundo estava na segunda divisão.
A tarde foi marcada por duas penalidades máximas contra o Grêmio. A primeira foi parar na trave do goleiro Galatto. A segunda foi adiada por mais de 25 minutos pelos jogadores desesperados que guerreavam. Sandro, o capitão, parou em cima da marca do pênalti, tentando evitar o inevitável. Era final de segundo tempo e um gol do adversário condenava os gaúchos por mais um ano, mas o gol nunca foi marcado. Galatto defendeu dessa vez e Anderson ainda cuidou do placar. 1x0. O narrador gritava: “Inacreditável! Você acredita em milagres?”
O jogo que posteriormente ficou conhecido como “A batalha dos aflitos” só acabou aos 60 minutos do segundo tempo. O Grêmio, mesmo com quatro jogadores expulsos, foi campeão e até se poderia dizer que, nesse momento, voltou a ser grande, mas isso seria um erro: o Grêmio nunca se permitiu ser pequeno. Pelo contrário, nada pode ser maior. Meu coração passou a ter três cores.
Desse modo posso dizer que já nasci campeã do mundo. Portaluppi cuidou disso pra mim em ’83, quando eu ainda nem pensava em vir ao mundo. Hoje, me orgulho em torcer pelo time que completa 107 anos de glórias. Parabéns, imortal. Como diria o escritor gaúcho Felipe Sandrin, “é pequeno o detalhe de o meu sangue ser vermelho. Diante do céu e do mar, é azul o mundo inteiro”. Azul celeste.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

07/09

Não gosto do dia sete de setembro. Quando algum infeliz fala em tal feriado, parece que começa a chover dentro do meu cérebro. E ainda tem o oito de setembro, dia da padroeira de Curitiba, que vem no pacote cinza. É depressão pro resto do mês.
Não importa o que você faça, sempre vai ter cheiro de cloro ou areia molhada. Pode até comprar um pacote pra Fortaleza e ficar feliz porque o sol brilhou bem forte a semana toda - o sete de setembro vai te deixar mais murcho que flor de ipê na calçada.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

DR

- Estou cansada de você.

- É Isso?

- É.

(...)

- Como?

- Você me cansa, oras. Eu sempre preciso te dizer o que fazer. Eu te digo como segurar a minha mão, onde me levar, do que me chamar...

- Hm.

- "Hm"???? Inacreditável! Essa é a sua resposta?

- É.

- Mas não deveria ser.

(pausa para os risos)

(pausa para a fúria)

- O que foi agora?

- É por isso que, ao contrário de você, eu estou tão relaxado. Não preciso pensar. Não preciso pensar e não preciso perguntar. Você vai dizer de qualquer modo...

- Acho que chegamos à conclusão de que você não se importa.

- Acho que chegamos à conclusão de que você está cansada de você mesma.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Waiting...

Embaçou os olhos ainda mais depois de tanto apertá-los. Achava que poderia parecer vulnerável se piscasse e admitisse que guardava lágrimas pelos cantos dos globos oculares. Dói demais deixar rolar. É mais fácil esconder dentro da gaveta e assim o fez. Cento e oitenta graus na chave, um coração protestante e uma mão trêmula que lançava o objeto de metal para longe da vista. Ficou tudo lá, com durex laranja no buraco da fechadura. É proibido escorrer. É proibido lembrar.
Sabia que no fundo o restante da espécie agia da mesma forma. Ainda se lembrava do jardim de infância, das crianças rodando, perdendo o equilíbrio e comprimindo o choro de tanta autocompaixão. Tomava como consolo, embora nunca houvesse compreendido. Mas as crianças choravam porque outros olhos as flagravam. Ossos no asfalto são nada perto daquilo que não tem corpo físico. Palavras e risos é que matam. Eles saem pelos lábios desses seres humanos tão peculiares que se divertem às custas da pele ralada. Os mesmos que fazem justiça parecer só mais uma palavra sem cabimento criada para o vocabulário cristão.
Lamentou e sentiu a terra girar. As cores mudaram, os olhos pesaram e as antigas lágrimas agora pareciam areia escondida atrás das pálpedras. Sonhou com um campo cheio de gangorras, dois balões coloridos e algumas outras crianças. No sonho exitou mas logo correu. O subconsciente sabia que o mundo era doce demais para ser disperdiçado. Só é feliz quem tem cicatriz no joelho. Ela sabia disso. Sabia tanto que colocou o velho disco pra tocar.


"Mantenha a sua cabeça erguida.
Não precisa de pressa.
Estamos todos esperando, esperando para morrer."