Se fosse só na hora não seria tão ruim assim.
Eu poderia sentir o teu abraço como qualquer outra pessoa do universo seria capaz de sentir naquele momento. Sentiria falta de cada traço teu como se fosse o ultimo dia da tua vida, esqueceria minha razão nos teus olhos e me permitiria chorar como todos fazem. Aí passaria. Eu já não planejaria um acaso tão distante da realidade, não cederia, manteria a distância que sempre desejei, sem me perder na saudade.
Depois eu encontraria alguém. Ele faria doer ainda mais tudo o que latejava por você e não se importaria com as minhas cicatrizes antigas. Eu te deixaria de lado, você seria só um pedaço da história que eu contaria nos monólogos nostálgicos sobre a minha juventude bem vivida, uma breve passagem do meu tempo. Isso seria tudo. Eu sequer lembraria de você quando a minha felicidade e as novas dores chegassem. As dores de quem se apaixona. As dores de quem vive.
Poderia ter sido fácil, mas não é.
Você se vai, passam os meses, eu vivo. Você volta, eu congelo. Você é o centro do meu mundo. Você está presente nas noites mal dormidas, nas canções, nos textos, nos sonhos dos quais acordo a ponto de me partir ao meio. Você arranha a minha ferida inflamada, incompleta meu ciclo. A tua história, que antes se cruzaria apenas com o prefácio da minha, já chega a conclusão.
Estou assim, pela metade. E se um dia achar alguém pra me completar, ficará a incompatibilidade da coisa mal ajustada. Eu vivo em busca dos traços do antigo no novo. De alguma forma você sempre está lá. No meio de tanta gente, você está lá. E eu só gostaria de encontrá-lo, mas é inútil: você se esconde.