sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Happy new year!

Comecei 2010 lendo um dos livros da minha vida. Hoje falam dele como se falassem de auto ajuda clichê, mas ele nunca vai sair de mim. O título é "Comer, Rezar, Amar", e esse livro tem uma parte muito interessante que fala sobre cada pessoa/cidade ter a sua própria palavra. Eu bem que tentei inovar e dar uma palavra pra 2010 também, mas descobri que cada dia de 2010 tem uma palavra e que o máximo que eu posso fazer é dizer que 2010 foi pura felicidade. Comi. Me alimentei de sorrisos e de vida. Isso nunca mais me faltará. Amém. Rezei vivendo e acreditando que cada suspiro meu pode ser uma prece. Um agradecimento a Deus, porque ele sempre foi muito bom comigo. Me deu uma família cheia de erros e acertos que nunca me abandona, um sorriso que eu não me canso de abrir, amigos que eu nem tenho palavras pra descrever, duas sobrinhas maravilhosas que são absolutamente amáveis e cheias de vida, um afilhado que está a caminho e que vai chegar à esse mundo com saúde e amor pra dar e vender, o ar que eu respiro, os braços que eu uso pra abraçar o mundo, a minha inteligência e o meu dom de ver muito no pouco. E é por isso que todo ano é o melhor ano da minha vida. Porque só de ouvir um "eu te amo", tenho um ano feito. Aí entra a parte do amar. E amar uma grande quantidade de coisas e pessoas, diga-se de passagem. Mesmo que 2010 não tenha sido o ano do amor maior. Mas esse pode vir em 2011, 2012, 2013... Eu tenho tempo. Afinal, eu não posso reclamar. Sou uma bagunça. Como diz a Cami, eu estou esperando por um príncipe porque não fui feita para os sapos, assim como estou esperando por um sapo porque não fui feita para os príncipes. E um dia o meu nem-sapo-nem-príncipe vai aparecer. Mas até lá, que a felicidade seja minha. E depois disso, que a felicidade seja minha e nossa.

Enfim... 2010, obrigada por me fazer feliz. 2011, seja bem vindo. Te regarei com muita felicidade e amor.




P.S.: 2011, você pode ajudar o Grêmio a nos trazer a América outra vez? E o mundo? Obrigada.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Jéss loves the classics

Porque pinheirinhos de natal sempre serão mágicos, assim como a saga Harry Potter. Porque chuva nunca deixará de lavar a alma, assim como cobertas e filmes sempre combinarão com frio. Porque preto sempre parecerá emagrecer quem o usa uns cinco quilos, assim como chocolate nunca deixará de consertar corações por alguns minutos. Porque nunca existirá uma cena tão genial para ilustrar a passagem do tempo quanto aquela de Notting Hill, onde toca "Ain't No Sunshine", assim como eu nunca deixarei de fazer tudo errado (e de rir disso no final).
C'est La Vie.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Para ninguém, sobre você

Na minha opinião, estou escrevendo para ninguém. É assim que penso. Caso pensasse de outra forma, me frustraria.
Que fique claro: Minha intenção não é a de negar a existência do pronome de segunda pessoa que paira sobre minhas linhas, mas é que quando digo que escrevo para ninguém, firmo meu descompromisso.
Não escrevo para você, embora seja sobre você. Não escrevo para mim, embora seja sobre mim. De mim sei bem. Não há a necessidade de me colocar por escrito. E você... bem, seus olhos desatentos jamais se dariam conta de que escrevo para você, caso o fizesse. Então prefiro não fazê-lo. Deixo tudo solto, sem destinatário.
Escrevo só por escrever.
Mas se em algum momento você se der conta de que minhas letras têm seu rosto, não deixe de dobrá-las quatro vezes e colocá-las no bolso da camisa, porque assim elas ficam mais perto do teu peito. E se a noite, quando o silêncio tomar conta do teu corpo, elas começarem a ecoar sozinhas, sem propósito, espero que sejam doces. Foi assim que as fiz. Com a doçura de alguém que trabalhou tanto, mas ao fim do dia só pensou em você. Enquanto tomava um banho quente, assistia ao telejornal, se debruçava sobre o livro de cabeceira ou checava os emails: só pensou em você. E a cada vez que pensava, acendia estrelas dentro de si. Douradas, azuis e amarelas. Pontos brilhantes que iluminaram o corpo e - depois de muito tempo - o coração.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Boa noite, boa viagem

Há um tempo atrás eu fui levar o meu contrato na faculdade. Cheguei no escritório estranho da Central de Carreiras e a menina mais simpática do mundo me atendeu. Ela disse que eu podia pegar o tal contrato em três dias úteis, mas precisava levar uma declaração da coordenadora do curso para retirá-lo.
Agora já faz três semanas desde que eu levei o contrato na UP - e eu nunca mais o vi. Até peguei a declaração, mas tomei chuva com ela (sim, eu sou um prodígio), que ficou toda amassada, e aí eu resolvi adiar o dia de pegar o contrato.
Com a declaração eu já tentei de tudo. Passei ferro, coloquei no meio de um livro super pesado, tirei xerox, pensei em pedir outra... Tudo! Mas nada dá certo. Não desamassa e eu não posso mais adiar. Não dá pra esperar. Tem que ser amanhã.
E o que eu quero dizer com tudo isso é que eu acho que você é a minha declaração personificada. Eu, com a minha mania de perfeição, não sei te aceitar. Não sei não pensar que você vive em outro mundo, que está amassado, do outro lado da rua ou qualquer coisa parecida. Já não sei mais nem que metáfora usar. E esse é o problema. Você me rouba até as palavras. Eu queria escrever alguma coisa que te fizesse deixar de ser tão... você. Queria te pedir pra gostar de mim ou simplesmente te desejar uma boa noite e uma boa viagem, mas quando eu abro a droga do editor de textos, sai um texto que começa com "Há um tempo atrás eu fui levar o meu contrato na faculdade". Dá pra ser mais deprimente?

domingo, 12 de dezembro de 2010

Com açúcar, com afeto

Ela abaixa o volume da voz e adocica os olhos. Deixa o ambiente sereno antes de dizer que você não é pra mim. E diz assim, com um jeitinho de quem quer cuidar. De quem sente o tal do amor que se traduz em palavras. Com açúcar, com afeto.
Eu, de cabeça baixa, finjo que não estou contrariada. Digo que faz sentido. E o que não faz sentido é a minha teimosia. A minha vontade de desobedecer as leis da natureza, a lógica e a razão. Meu jeito de acreditar que o mundo não tem fim. De ligar mil vezes sabendo que não vou ser atendida. De empurrar aquele bidê que não sai do lugar. De não estudar para a prova mais importante do semestre.
Minha mania de acreditar em contos de fada e de apostar em que algum caminho torto me leva pra você.
Mas isso realmente não faz o menor sentido.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Porque hoje é sexta...

E o mundo está muito mais bonito!

"Amo a musica, acredito na melhoria do planeta, confio em que nem tudo está perdido, creio na bondade do ser humano e intuo que a loucura é fundamental. Agora só me faltam carneiros e cabras pastando solenes no meu jardim.
Viver é ótimo."

Elis Regina

domingo, 14 de novembro de 2010

Pensando alto

Faz tanto tempo que eu não escrevo alguma coisa exclusivamente pra postar no blog... Até pensei em escrever uma crônica ou um conto, mas o fato é que eu não quero escrever algo poético, mascarado. Eu quero escrever sobre mim, sobre a vida, sobre as pessoas que eu amo... Enfim, sobre o que eu sinto (sem entrelinhas). Hoje não é um bom dia pra roubar ou inventar vidas.
Sexta-feira foi meu aniversário e, pela primeira vez, eu senti que tudo estava no seu devido lugar em um dia de aniversário. Ouvi tantas coisas doces, que eu tenho certeza que vieram do fundo de alguns corações por aí, e até fiquei impressionada com a impressão que algumas pessoas têm de mim. Me senti verdadeiramente eu. Transparente, entregue. Como se eu me olhasse no espelho e visse exatamente o que muita gente vê.
Além disso, me senti plenamente feliz por conseguir olhar para pequenas coisas e ver grandes coisas. Se há dois anos eu teria ficado triste por não receber o abraço que sonhei de uma pessoa específica, sexta fiquei feliz porque outra pessoa, que eu nem sonhava gostar tanto de mim, me abraçou com muita devoção. Eu acho que tenho mais pessoas legais na minha vida do que consigo perceber.
Aliás, ainda na sexta, eu tive uma conversa muito boa com a Nicole, que tem sido o meu sol. Ela estava falando sobre o quanto a gente ama as pessoas e não deixa elas saberem. E é verdade. Eu amo tanto a minha vida e todas as pessoas que fazem ela ser melhor, e eu não falo isso sempre. Ou melhor, algumas pessoas nunca ouviram isso de mim. Então vale a dica: se você me faz sorrir e eu te dou alguma atenção, há uma grande probabilidade de eu amar você (leia isso, mãe! hahaha). E se você já ouviu alguma reclamação minha sobre a sua falta de atenção, aí a probabilidade é bem maior.
Enfim, acho que eu só queria escrever isso. Eu amo a minha vida, ela é linda e esse ano eu conheci e reconheci muita gente especial. Portanto, aí vai o meu agradecimento, Deus, porque eu sei que tudo tem o seu dedo. E o outro agradecimento vai para as pessoas da minha vida, ipês, gatos e limões. Essas coisas fazem a minha existência fazer algum sentido.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Eu não traio

Infidelidade, disse ele. Fiquei meio assustada. Como assim, Infidelidade? Aquele filme me enche de tédio, como a maioria dos filmes que têm o Richard Gere. Não pode. Dá pra gostar de Flashdance, Lolita, Embalos de Sábado à Noite... Sei lá, qualquer coisa, menos Infidelidade. Mas ele não mudou de ideia, então era isso. Eu estava namorando o cara que gosta de “Infidelidade”.
Prometi assistir de novo e procurar mais sobre o filme no google. Resolvi procurar no google primeiro. Cheguei em casa, abri o notebook e comecei a digitar. Google.com. Enter. Infidelidade. Enter. 540.000 resultados. Na primeira página, artigos psicológicos, uma música interpretada por Caetano Veloso e uma pesquisa curiosa. Do Caetano, eu só gosto de Nosso Estranho Amor. É a música tema de Romance, aquele filme que tem o Wagner Moura. Aquele sim é filme de verdade. Infidelidade nem aparece na primeira página da busca. Mas voltando aos resultados, resolvi ficar com a pesquisa curiosa mesmo.
A pesquisa dizia que os brasileiros são os mais promíscuos e infiéis da América Latina. E por “brasileiros” entenda “brasileiras” também. Que absurdo. Eu nunca pulei a cerca. Minha mãe sempre diz que a gente pode trair até por pensamento, mas eu nem penso nessas coisas. Meu namorado tem um gosto bem ruim, mas é ótimo. Enfim, google me deu fome. Maldita publicidade. Fui à padaria.
No caminho, vi uma menininha birrenta. Ela não tinha os dois dentes da frente e queria um pirulito que vira numa vitrine. A mãe não tinha o dinheiro, pelo jeito. Menina mimada. E depois ainda falam de “lei da palmada”. Me poupe. Em seguida, vi um velho de boina fumando. Ele estava se achando muito francês e o cigarro era um Derby. Andei mais uns passos e vi a vizinha loira do 401. Essa sim tem fama. Dizem que o marido já nem passa mais pela porta por causa dos “galhos”. Ainda bem que eu não traio e nem penso nisso. Quase chegando à padaria, vi um loiro bonito que carregava um Labrador pela calçada. Parecia simpático. Cheguei a parar pra acariciar o cachorro. Pensei em ter um cachorro também, assim nossos cachorros começariam a brincar e nós teríamos que nos olhar e sorrir meio sem graça. Com sorte, a regata dele pararia no meu chão depois disso. Ô, lá em casa. Foi então que ele me deu uma piscadinha. Ai, credo. Ainda bem que eu não traio. Nem penso nessas coisas.



[Aulas sobre crônicas podem ser produtivas. Ou não.]

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Não basta se cansar do mundo, tem que se cansar de si próprio.
Tem que ouvir a própria voz perdendo a magia, ganhando cansaço.
Tem que acreditar que o mundo precisa mudar, mas não saber se começa por dentro ou por fora.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

GRE-nal

Pra começar, dia de Gre-Nal, pra mim, é dia de GRE-nal. Além disso, é dia de final de copa do mundo, dia de parto, dia de formatura, dia de mentir e dia de leitura em público. Eu fico tremendo feito vara verde, como as unhas, soco os móveis e grito tanto quanto o meu irmão jogando truco.
Outro aspecto muito interessante sobre o GRE-nal, é o saudosismo que ele me desperta. Eu começo a me lembrar de quando tinha 6/7 anos e meu primo me fazia caminhar pela Água Verde com uma camisa do Grêmio. A camiseta era dele, então batia nos meus tornozelos e eu quase torrava no sol, mas ficava incrivelmente feliz. A minha felicidade era quase apalpável. Ainda é.
Quando o Grêmio faz um gol em dia de GRE-nal, eu me lembro da pequena e sorridente versão de mim. E eu não mudei muita coisa. O Grêmio ainda me orgulha (e aflige).
Sobre isso, há quem diga que eu vou infartar. Dizem que é muita aflição e eu não tenho coração suficiente pra isso. A teoria é boa, mas a metáfora é ruim. Se eu infartar, é porque tenho coração demais. Pro meu Imortal, meu coração é infinito.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Para refletir:

O senhorzinho está sentado na minha frente. Ele tem 66 anos e uma pele quase negra - resultado de muitos anos de exposição ao sol. Enquanto fala, brinca com o menininho que não pára quieto no colo da mãe. Está de camisa branca e boné de campanha. Tem olhos frágeis e gosta de falar da vida.
De repente, divaga:

- Eu tenho uma casa própria, um carrinho, um casal de filhos e aposentadoria. Eu tive muita sorte... Muita sorte!

E aí, senhoras e senhores, eu penso: O que é que eu estou fazendo mesmo?

domingo, 17 de outubro de 2010

Tudo pela metade

Eu admiro o que não presta. Eu escravizo quem eu gosto. Eu não entendo. Eu trago o lixo para dentro. Eu abro a porta para estranhos. Eu cumprimento. Eu quero aquilo que não tenho. Eu tenho tanto a fazer. Eu faço tudo pela metade. Eu não percebo. Eu falo muito palavrão. Eu falo muito mal. Eu falo muito mesmo sem saber o que estou falando. Eu falo muito bem. Eu minto.

Marisa Monte

terça-feira, 12 de outubro de 2010

João e Maria

Maria nasceu atrás de uma estação ferroviária. Enquanto a mãe gritava, o trem apitava. Anos depois, sentou-se no último vagão e terminou de ler Cem Anos de Solidão. Irrompeu em um choro sofrido. Pegou o espelho de bolso pra ver por onde o rímel escorria e, enquanto contornava os olhos com os dedos, viu João.
João era alagoano e tinha pele de castanha do Pará com casca. Sempre que tomava banho, cantava Belchior. Se dava bem com a vizinhança e era feito de camisas brancas, cabelos penteados e sorrisos baixos. Quando dizia “oi”, parecia querer dizer que sentia muito. Sentado sozinho na mesa, tomava um café e fitava Maria de costas, por cima da xícara.
Quando perceberam que haviam se notado, pularam das cadeiras. João queimou os lábios e derrubou o café na toalha branca. Maria derrubou o espelho, que se partiu em dez no chão, e deixou o batom vermelho escorregar.
João, nervoso, gaguejou em pensamento e seguiu na direção de Maria, segurando o tubo cor de sangue. Parando ao lado da mesa, viu a moça que ainda juntava cacos e segurava a saia que teimava em voar com o vento.
Sorriram. Falaram-se com olhares e acenos. A piscadela de Maria disse: "muito obrigada". João entendeu e lhe estendeu a mão. A partir daí, passaram a dividir a mesa, a toalha manchada de café e sete anos de sorte.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Velho Amor

Pensou quatro vezes antes de virar a esquina. Chegou a contar nos dedos pra não se arrepender depois. Um, siga em frente. Dois, acabou. Três, vai doer. Quatro, é proibido gritar.
Continuou caminhando firme, olhando apenas algumas vezes para trás. O prédio branco foi diminuindo. O céu cinza foi aumentando. O peito ficou tão encharcado que já não sabia mais se chovia do lado de dentro ou do lado de fora.
Sentou-se no meio fio e pegou o bloquinho de notas. Fez um emaranhado de linhas fortes, quase rasgando o papel. Rabiscou bem fundo: nunca mais, nunca mais, nunca mais.
Arrancou o moletom do corpo tentando se livrar do cheiro acusador. Fechou os olhos e inspirou infinito. Pediu por novos ares, novo corpo, nova vida. Se lembrou do livro favorito e soube que era mesmo alagoana. Só sabia chover.
Mais tarde pegaria um táxi, subiria as escadas e giraria a chave. Desfilaria pelo apartamento vazio, ligaria o chuveiro, a água escorreria pela pele e lavaria a alma. Sairia envolta pelo vapor e abriria a porta. Ele estaria lá. Seus olhos estariam tão transbordantes que a fariam chorar outra vez.
Mesmo seca, choveria de novo. Compraria um bloquinho e outro moletom. Novas roupas, mesmo cheiro. Mesmos hábitos, velho amor.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010




Hoje eu bem que queria ter uma River Court pra pintar.

domingo, 26 de setembro de 2010

Sabe o que mais me entristece sobre a morte? Tudo.

Parece que alguma coisa aperta o meu coração com as duas mãos e eu começo a me afogar. Essa descrição sem sentido é a melhor que eu consigo encontrar. Acabou. Não importa quantas teorias do descanso eu ouça, só consigo acreditar no Jim Morrison. "This is the end, my dear friend". E nada mais faz sentido. Se alguém diz que sente muito, não me diz nada, porque quem sente muito sou eu. Eu é que tenho uma coleção de vidas perdidas dentro do armário e, ainda assim, nunca me senti mais hábil a lidar com isso. O que não me mata não me fortalece. Sempre fico tão perdida que parece que alguém apagou a minha luz, e aí me irrita o fato de que o mundo dos outros continua claro e em movimento. Me parece injusto.

Miss you, buddy.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Primavera

Não consigo explicar o que eu sinto quando começa a primavera. Só sei que acho que estou num daqueles desenhos da Disney, com todos os passarinhos da cidade me ajudando a arrumar a casa. Acontece que, ao invés daqueles montes de "A's", eu tenho vontade de cantar Casa Pré-fabricada.

"Abre essa janela, a primavera quer entraaar
Pra fazer da nossa voz uma só nooota" ♪

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Eu tenho tanta vontade de te abraçar, que os meus braços tendem a desenhar o velho "c". Quando percebo, já estou agarrando os pulsos e imaginando como ficaria apertado se você estivesse ali no meio, nesse espaço vazio que eu levo entre as mãos e o coração.

domingo, 19 de setembro de 2010

"Será que, à medida que você vai vivendo, andando, viajando, vai ficando cada vez mais estrangeiro?

Deve haver um porto."

Caio F.

sábado, 18 de setembro de 2010

Surpresa

Sempre me pega de surpresa. Da primeira vez, estava lá com os amigos. Se apresentou e me viu corar em segundos. Nem percebi que tinha dito em alto e bom som:
- O quê? Esse é o teu nome?
Era um nome tão estranho...
Ele riu com tanta calma que parecia querer me abraçar e dizer bem baixinho:
- Tá tudo bem.

Da segunda vez, o vi naquela fila imensa. Meus olhos brilharam forte.
- Olha! Eeeei, olha! Aquele menino parece o Victor Bagy!
E parecia mesmo. Mas não percebi que era o menino do nome estranho. Tiveram que me contar. E aí já não me parecia mais tão conveniente chegar e dizer "oi, como vai?".
Deixei passar.

Da terceira vez, sentou-se ao lado de uma garota. Sentei-me logo atrás e tentei descobrir se era ele por cima dos ombros e pelo reflexo da janela. Quando constatei, senti um frio entre o estômago e o coração. Não entendi o porquê.
Ele sorriu com a mesma calma de sempre, mas não pra mim. Depois colocou as mãos em cima do caderno da menina e explicou o cálculo. Não sei se tudo ficou tão complicado por causa dos números ou por causa do metal no anelar da mão direita.
- Ai!
Doeu. Falei com ele uma só vez e, de repente, doeu. Acho que foi porque o meu nome não estava lá, arranhado no metal polido. Ou porque não era mais eu quem se sentava ao lado. Só sei que me pegou de surpresa, usando o meu tipo de cachecol preferido, e doeu.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Só a imortalidade explica



Os dicionários invariavelmente definem o substantivo “grêmio“ com uma só frase. Os mais tradicionais costumam afirmar que se trata de um “grupo de pessoas reunidas em torno de um mesmo objetivo”, o que torna tudo muito simples e didático, porém, insuficiente se falarmos do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense.
Para os que amam o manto azul, preto e branco, definir o Grêmio é uma tarefa árdua. O time pelo qual mais de sete milhões de corações torcedores batem por todo o país desafia a lógica e a racionalidade. Há quem diga que Grêmio é sentimento. Há quem diga que é doença. Há quem diga que é tudo e mais um pouco, porque pensar no tricolor gaúcho é pensar na imensidão.
O Grêmio nasceu em 1903. No mesmo ano morreu o pai de Hitler, nasceram George Orwell e Candido Portinari, as mulheres abusaram do tom pastel e a primeira versão cinematográfica para Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll, foi produzida.
Só nasci 88 anos depois e ainda levei mais quatorze anos para provar da imortalidade pela primeira vez. Quando se é criança, as coisas não fazem muito sentido. O que é uma partida de futebol? 22 homens correndo atrás de uma bola? Só pude compreender no dia em que 22 viraram 18.
Era 26 de novembro, fazia sol e a batalha acabara de começar. As camisas azul-celeste estavam todas lá cumprindo a promessa: com o Grêmio, onde estiver o Grêmio. A bola rolou e, se ficava por muito tempo nos pés do adversário, até ateu rezava. Todo mundo parecia implorar pra Deus ser gremista naquele dia. No campo os jogadores pareciam sufocados. Só não se sabia se era por causa do presente da casa - a tinta fresca com querosene e gasolina no vestiário - ou porque o campeão do mundo estava na segunda divisão.
A tarde foi marcada por duas penalidades máximas contra o Grêmio. A primeira foi parar na trave do goleiro Galatto. A segunda foi adiada por mais de 25 minutos pelos jogadores desesperados que guerreavam. Sandro, o capitão, parou em cima da marca do pênalti, tentando evitar o inevitável. Era final de segundo tempo e um gol do adversário condenava os gaúchos por mais um ano, mas o gol nunca foi marcado. Galatto defendeu dessa vez e Anderson ainda cuidou do placar. 1x0. O narrador gritava: “Inacreditável! Você acredita em milagres?”
O jogo que posteriormente ficou conhecido como “A batalha dos aflitos” só acabou aos 60 minutos do segundo tempo. O Grêmio, mesmo com quatro jogadores expulsos, foi campeão e até se poderia dizer que, nesse momento, voltou a ser grande, mas isso seria um erro: o Grêmio nunca se permitiu ser pequeno. Pelo contrário, nada pode ser maior. Meu coração passou a ter três cores.
Desse modo posso dizer que já nasci campeã do mundo. Portaluppi cuidou disso pra mim em ’83, quando eu ainda nem pensava em vir ao mundo. Hoje, me orgulho em torcer pelo time que completa 107 anos de glórias. Parabéns, imortal. Como diria o escritor gaúcho Felipe Sandrin, “é pequeno o detalhe de o meu sangue ser vermelho. Diante do céu e do mar, é azul o mundo inteiro”. Azul celeste.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

07/09

Não gosto do dia sete de setembro. Quando algum infeliz fala em tal feriado, parece que começa a chover dentro do meu cérebro. E ainda tem o oito de setembro, dia da padroeira de Curitiba, que vem no pacote cinza. É depressão pro resto do mês.
Não importa o que você faça, sempre vai ter cheiro de cloro ou areia molhada. Pode até comprar um pacote pra Fortaleza e ficar feliz porque o sol brilhou bem forte a semana toda - o sete de setembro vai te deixar mais murcho que flor de ipê na calçada.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

DR

- Estou cansada de você.

- É Isso?

- É.

(...)

- Como?

- Você me cansa, oras. Eu sempre preciso te dizer o que fazer. Eu te digo como segurar a minha mão, onde me levar, do que me chamar...

- Hm.

- "Hm"???? Inacreditável! Essa é a sua resposta?

- É.

- Mas não deveria ser.

(pausa para os risos)

(pausa para a fúria)

- O que foi agora?

- É por isso que, ao contrário de você, eu estou tão relaxado. Não preciso pensar. Não preciso pensar e não preciso perguntar. Você vai dizer de qualquer modo...

- Acho que chegamos à conclusão de que você não se importa.

- Acho que chegamos à conclusão de que você está cansada de você mesma.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Waiting...

Embaçou os olhos ainda mais depois de tanto apertá-los. Achava que poderia parecer vulnerável se piscasse e admitisse que guardava lágrimas pelos cantos dos globos oculares. Dói demais deixar rolar. É mais fácil esconder dentro da gaveta e assim o fez. Cento e oitenta graus na chave, um coração protestante e uma mão trêmula que lançava o objeto de metal para longe da vista. Ficou tudo lá, com durex laranja no buraco da fechadura. É proibido escorrer. É proibido lembrar.
Sabia que no fundo o restante da espécie agia da mesma forma. Ainda se lembrava do jardim de infância, das crianças rodando, perdendo o equilíbrio e comprimindo o choro de tanta autocompaixão. Tomava como consolo, embora nunca houvesse compreendido. Mas as crianças choravam porque outros olhos as flagravam. Ossos no asfalto são nada perto daquilo que não tem corpo físico. Palavras e risos é que matam. Eles saem pelos lábios desses seres humanos tão peculiares que se divertem às custas da pele ralada. Os mesmos que fazem justiça parecer só mais uma palavra sem cabimento criada para o vocabulário cristão.
Lamentou e sentiu a terra girar. As cores mudaram, os olhos pesaram e as antigas lágrimas agora pareciam areia escondida atrás das pálpedras. Sonhou com um campo cheio de gangorras, dois balões coloridos e algumas outras crianças. No sonho exitou mas logo correu. O subconsciente sabia que o mundo era doce demais para ser disperdiçado. Só é feliz quem tem cicatriz no joelho. Ela sabia disso. Sabia tanto que colocou o velho disco pra tocar.


"Mantenha a sua cabeça erguida.
Não precisa de pressa.
Estamos todos esperando, esperando para morrer."

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Desvendando mitos II

A pergunta agora é: uma menina te diz que o mundo é cor-de-rosa. O que você responde?


Vitor, 25 anos:

- Que quero sexo com ela. Resposta errada?

Marcelo, o "jardineiro", 33 anos:

- Você é patty.

Daniel D'alessandro, 20 anos:

- Pode ser que sim. Cada pessoa tem o seu mundo.

Danilo Georgete, 20 anos:

- Seria mais bonito se fosse roxo.

Felipe Sandrin, 23 anos:

- Até pode ser, se você torce pro São Paulo. O meu é azul.

Guilherme Santander, 18 anos:

- Você tomou ácido demais. Manera nisso aí.

Leonardo Hoto, 24 anos:

- Conheço um oftalmo ótimo!

Fernando, o "Mad", 25 anos:

- Diga isso pra cegos e daltonicos.

Renan Furtado, 24 anos:

- Se você acredita nisso, mantenha sua fé.

Ricardo Pedroni, 24 anos:

- O mundo realmente pertencerá em pouco tempo às mulheres e certas facções GLS.


Rodrigo, o "rods", 28 anos:

- O que você andou fumando?



Conclusão: nem todos os homens são completos imbecis. Só 90% deles. Mas pelo menos eles têm senso de humor.

Desvendando mitos I

A pergunta é: você diz pro homem perfeito que o mundo é cor-de-rosa. O que ele te responde?


Nicole Sourient, 23 anos:

- Eu sou seu mundo.

Suzana Carvalho, minha digníssima mãe, 47 anos:

- Querida, não seja tão burra.

Maria Carolina, 18 anos:

- Só é cor-de-rosa porque estou com você.

Anna Beatriz, 6 anos:

- Saia daqui, menina.

Aline Reis, 21 anos:

- Por que?

Evelyn Bueno, 19 anos:

- Não sei, tô lesads hoje.



Conclusão: e depois dizem que todas as mulheres são iguais.

P.S.: Se você também ficou pensando na frase da Nicole e chegou à conclusão de que o homem perfeito dela é gay, diga EU!

P.P.S.: Aguardem a segunda rodada.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

É assim

- Eu te acho inteligente.

- Como assim? Eu estou usando a roupa mais sexy que eu tenho, os meu cabelos foram alinhados só para desalinhar o seu coração, eu leio Bukowski pra parecer divertida quando acho que você vai morrer de tédio, todos os seus amigos acham que eu sou perfeita, sempre te acompanhei na cerveja e vou aos jogos do seu time. Você precisa me amar.

- É. Você acabou de dizer as coisas mais inteligentes que eu já ouvi.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Mais

Hoje foi o dia mais febril do meu mês e eu só queria ser abraçada pelo mundo inteiro.
Sobraram 15 minutos, fumei dois cigarros, conversei com todo mundo pra ver se alguém me dava um pouco mais de atenção e fui embora com o coração apertado.
Pedia mais, muito mais. De repente os diálogos sobre arte, música e história não faziam o menor sentido.
Pra que tanta educação?

Tem dias em que a gente se esquece de que é bom ser inteligente e fica lá, no meio de todo mundo, esperando alguém olhar e dizer "é você".

Sem retóricas, sem rodeios: é você.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Pra não dizer que não fugi

Disfarcei, desviei os olhos do olhar acusador do inimigo, pensei nas latas de tinta que foram usadas pra deixar a cor daquela parede tão uniforme. Tentei tirar da mira, da cabeça, do coração, da agenda, e me vi sentada três horas depois, tomando seis drinques antes de encarar o telefone. Fraquejei, tremi, temi e percebi que doía um pouco.
Me causa dor física, tensão, deixa a pressão lá em cima quando não pára de olhar. E eu não posso evitar, mesmo que queira não corar ou correr por aí, repetindo alguma frase banal.

- Ele não. Ele não. Ele não!

Ele não, porque eu sei que pra ele não sou eu. É ela, é mais outra, é aquela lá. Às vezes é uma versão de mim. Alguém muito mais interessante, sem essa expressão de felino rejeitado tatuada no rosto. Alguém que não vaga pela vizinhança. Esse meu eu independente que só existe na memória dele. Perdi o controle.

Marisa Monte cantou, Chico Buarque consentiu e eu não quis aceitar. Meu coração é um músculo involuntário - e ele pulsa por você.

domingo, 15 de agosto de 2010

Agosto

"Para atravessar agosto é preciso, antes de tudo, paciência e fé. (...) Ter um amor seria importante, mas se você não conseguiu, se a vida não deu, ou ele partiu - sem o menor pudor, invente um."

Caio F.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Corante

Eu queria escrever sobre o que eu sinto agora, mas parece que tudo o que poderia sair de mim, já saiu de Rodrigo Amarante ou Marcelo Camelo. É por isso que eu me afundo em Los Hermanos, cigarros e drinks desconhecidos. É por isso que eu tomo tanto chá de limão e tenho vontade de ficar lá fora, sentada no escuro, seguindo cada linha da sombra que a árvore seca faz na calçada. É o meu motivo pra dizer sim pra tudo, esperando que alguma eventualidade preencha essa falta de alguma coisa que eu só desconfio saber o que é, ou orando pra que alguém diga o que realmente sente, sem rodeios, porque fazer isso já tem me saturado o bastante.
Eu encontro arte nas manchas coloridas que as luzes dos postes e faróis fazem no asfalto molhado e no jeito das pessoas de rir. Especialmente nos meus sorrisos preferidos, aqueles tão forçados que dão rugas ao lado dos olhos. Eu procuro coisas pra me emocionar porque eu já não sei mais no que pensar. Eu costumava usar a mente pra produzir essas cenas que me congelavam o coração, mas acabei prometendo nunca mais fazer isso. Acho que pra não me desapontar, me apoiar mais na verdade ou algo assim. Não sabia que o resultado seria ficar por aí criando arte. Não é arte que me falta. É alguma coisa parecida, mas não é arte. É aquela droga de sensação que faz toda noite parecer uma cena de Jean-Pierre Jeunet. Aquele sentimento estranho que deixa as coisas mais lentas, mais laranjas, mais distorcidas.
Estou tão certa de estar longe de todas as respostas que a minha cor do momento é branco. Faltou corante.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Cotidiano

O sol foi surgindo gradualmente e os meus olhos passaram a se comprimir na mesma medida. Era o peso da luz acordando o meu sono.
Observei as cortinas que eram movidas pelo vento que apagava a fumaça saída da tua xícara e o som uniforme dos grilos foi se esgotando. Me lembrei de como costumava reproduzir esse mesmo som quando o silêncio se instalava depois de uma das suas perguntas impetuosas. Mas pela manhã a calma impera.
Eu me sentia tão esmagada que meus ossos gritavam por socorro, mas apesar de parecer que eu havia corrido uma maratona a minha dor não havia sido causada pelo esforço físico. Era uma dor prazerosa. Era felicidade, porque eu sobrevivi à mais uma noite com você, fazendo com que pela manhã só restasse a tua voz rouca, vencida pelo cansaço, e duas mãos inquietas que se movimentavam num esforço inútil, tentando explicar o inexplicável. Acho que Wayne Coyne estava com a razão no rádio do táxi que me levou até você pela primeira vez. Cheguei a pensar que todos os poemas, padrões e raças cujo mundo foi tragado pelo mar, de Neil Gaiman, não faziam o menor sentido porque você deixava o mundo todo azul-celeste quando torcia os lábios, lutando contra o seu melhor sorriso: o que teima em se abrir quando me chama pelo nome.
O sol brilhou mais forte e meus olhos se fecharam por alguns segundos. Sua respiração se tornou mais pesada e próxima. Perto de você o planeta é uma pequena ilha.
E assim se passou um quarto da manhã.

domingo, 11 de julho de 2010

Dois

(Foto descaradamente roubada do Páginas Viradas)

Ela usou o vestido como se fosse sábado, como se fosse verão, como se tivesse recebido flores pela manhã.

Ele segurou as mãos dela como se fossem um mistério e achou difícil acreditar: ainda bastava que ela caminhasse ao lado.

Eles subiram uma colina e descobriram que tinham algo a dizer. Era dia de matar. Deixaram a noite cair sem que se ouvisse um só som. Começaram a escorregar.

O tempo correu, o dia acabou, os segredos estão lacrados.

Agora jogue a moeda, marque a hora, deixe chover. Não importa, o mundo acabou.

Mãos sempre são mistérios.

(Totalmente baseado em Jack and Jill - Katie Herzig)

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Parei

Decidi parar de pensar. Decidi parar de pensar e de falar. Depois ainda estabeleci metas: acordar mais cedo, comer mais cenoura, dar bom dia à vizinhança, ouvir menos Coldplay e tomar mais leite.
Chega de ficar imaginando como ele chegaria pra me dizer "e aí? tudo bem? eu te amo!"
Pra quem sempre preferiu voar, recolocar os pés no chão é uma dádiva. Preciso manter contato com a terra - só pra variar.
Penso que enquanto eu fico achando que o sorriso dele é tão lindo que poderia iluminar uma cidade inteira, eu poderia cuidar mais do meu.
Necessito desesperadamente de alegria. Ou melhor, alegria não: euforia! Quero voltar a ler, quero dar risada do sarcasmo do House, quero assistir "Casablanca" sem sentir que me falta algo, quero andar por aí no fim da tarde só porque assim eu me sinto mais parte do universo. Aliás, por que diabos eu não olho mais pros ipês da esquina de cima? Eu costumava fazer isso. O cheiro deles me lembra de como ter paz - e eu quero paz. Quero qualquer coisa que me faça voltar a dormir com aquele cansaço típico de quem foi feliz demais pra pensar em algo melhor depois que apoia a cabeça no travesseiro.

"Supere isso e, se não puder superar, supere o vício de falar a respeito", aconselhou Maryan Keyes, uma santa.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Quem inventou o amor? Me explica por favor?

Não sei mais do que se trata esse tal de amor e honestamente desisti de entender. Falei pra melhor amiga que não pode ser amor e ela insistiu em discordar, mesmo sem uma boa teoria. Mas me diz: como pode ser amor se eu sequer tremo? Achei que esse fosse o grande sintoma. Achei que queimar o arroz, encher a comida de sal, caminhar por aí só pra pensar, ouvir aquela música brega, rir sozinha, prestar atenção nos detalhes, consumir a presença, exercitar a imaginação e ativar a memória olfativa fossem NADA perto da tremedeira. O bom não é isso? Sentir o frio na barriga, a ansiedade, querer chorar, gritar, rir... tudo ao mesmo tempo?
A voz dele não me provoca grandes sensações e eu não quero que ele se mude pra minha vida. Pode deixar as malas no corredor. Mas quando ele chega eu fico a implorar: Olha pra mim. Olha pra mim. Olha pra mim. Olha pra mim porque eu estou aqui, esmagada pela sua presença, pedindo pelo teu olhar.
E aí, se ele não olha, se torna amor. Porque o meu amor é assim. É álcool na ferida. Rápido e excruciante. É instantâneo - me arrebata e me deixa na velocidade da luz. Mas se não é amor, o que mais pode ser?

Você que inventou o amor... me explica por favor?

sábado, 19 de junho de 2010

As loucas

Nós, mulheres modernas, somos mesmo loucas. Onde já se viu praticar tanto essa coisa estranha tradicionalmente chamada de “pensar”? Deixa estar, let it be, vá comprar um brilho novo, deixe de ser complexada: é assim que se vive.
Pra que sentir saudade? Sentir saudade é colocar as algemas, é comprar o vestido de casamento. Certas coisas simplesmente não podem ser ditas. Não mande aquela mensagem de texto com um “eu gosto de você”, “eu sinto a sua falta” ou “eu pensei em você hoje”. Só diga isso se você quiser que ele corra like hell. Não, não importa que você sinta isso. Não diga.
Não critique também, críticas são coisa de homem - e de homem importante, daqueles que sobem no palanque, que comentam o jogo de quarta, que sabem qual é a melhor marca de cerveja... Você: nem pense nisso. Apenas sente-se ao lado, ria de tudo, cruze as pernas e jamais, jamais pense em opinar.
Pra que defender o homossexualismo e a liberdade de expressão? Pra que abominar o aborto? Que garota chata! A coleção de inverno da Zara já chegou, a novela está no último capítulo e você deveria estar feliz. Aliás, pra que diabos chorar? É só um filme, é só um livro, é só um susto, é só a vida, é só uma mentira.
Andar de pés descalços, comer o que quer, fazer uma piada, gostar de futebol e sentar no chão também fica estritamente proibido. Jamais aja com espontaneidade. Mulheres são calculadas: calcula-se o peso, o tamanho dos peitos, da bunda, do sorriso e do cérebro. Não dá pra cozinhar, ouvir Matanza e odiar o governo.
Apenas saiba agradar, fingir e gostar de futebol na copa do mundo. Mas só veja os jogos do Brasil. Quando sair um gol, levante-se e comemore. Se não sair, faça a melhor cara de decepcionada que conseguir. Não comente um lance sequer. Não torça pra Itália. Torcer pra Itália é coisa de quem não sabe nada de futebol. É só porque os italianos são bonitos. E não, não importa que eles sejam tetra campões do mundo, que você saiba a escalação e seja capaz de explicar um impedimento. Mulher não torce. Mulher não sabe.
Não seja assim, não seja como eu. Não corra na chuva, não diga o que quer, só vá se estiver arrumada o bastante e, sobretudo, não seja feliz. Os homens teriam medo de você, medo da sua capacidade de criar e pensar, medo de serem envergonhados pelas suas habilidades. Seja boa com eles, se anule. Não se estresse, não seja humana, não se arrisque a ouvir o clássico “é TPM”. Mesmo que seja TPM, não demonstre. Existe pecado maior que se mostrar como realmente é?

Já dizia a minha querida Nicoleta: “Amélia o caramba, nós é que somos mulheres de verdade!"

domingo, 16 de maio de 2010

Há amor

Ele pensou em jogar fora toda a beleza que adquiriu durante aqueles anos e sequer exitou ao chorar: não há amor. Mas havia amor. Sempre houve. Mesmo quando não vinha de todas as partes.
Porém, se ele afirma, talvez deva explicar: e o que é amor?
Procurar a paz do outro lado da rua? Não, isso é um erro, é a beira do abismo. Esse tipo de sentimento destrói. Se não fosse por ele, a instrução errada jamais teria sido seguida. Quando ela deixou de querer voar, ele deveria ter beijado suas asas. Amor deve ser suportar quatro asas.
Mas quem vê o amor mesmo é ela. É aquele que arrepiou a espinha, que fez ele chorar. Foi o amor dela que o curou quando ele andava por aí carregando aquele olhar de guaxinim ferido. Ela sempre foi a erva, a camomila, a droga, a sensibilidade. Era ela quem sentia alguma coisa entre o estômago e o coração quando ele falava.
Ele, por outro lado, só sabia que certas coisas o faziam bem. Foi por isso que correu os dedos pelos joelhos dela. Ele sabia que ela já estava cansada de se prostrar, mas não sabia que aqueles dedos na pele é que são o amor.
É por isso que ela continua a acreditar veemente: nos olhos vermelhos dele há amor. Mesmo que o grito diga o contrário. Se ele grita, só pode ser por amor. De que outro modo ele se importaria? Ela o perdeu onze vezes só para ganhá-lo. E agora, mais uma vez, ela o perdia. Ele sempre seria guaxinim e ela queria voar pela décima segunda vez.

domingo, 9 de maio de 2010

Eu gosto de você

Eu gosto de você quando você não me liga pra desejar boa noite. Eu gosto de você mesmo que você nem saiba que horas eu durmo. Eu gosto de você quando você não leva o meu mocaccino antes da aula, quando você não se importa com o meu novo corte ou quando não dá a mínima pra minha cara lavada. Eu nem gosto muito de maquiagem mesmo. E eu gosto de você quando você não sabe disso. Eu gosto quando você não me abraça e diz que volta amanhã ou que volta algum dia. Eu gosto de você quando você não vem. Eu gosto quando você não fecha os olhos, não reclama dos meus ciúmes e não segura a minha mão. Você sequer me deixa dizer que eu sou a garota mais feliz que já segurou um martini e eu sou feliz. Mas é só porque eu gosto de você e porque eu gosto de "Vanilla sky". Mas eu gosto ainda mais de você porque você nem sabe de que filmes eu gosto. Eu gosto dos seus olhos verdes. Eu gosto mais de olhos castanhos, é verdade, mas eu gosto de olhos verdes também. Eu gosto de olhos verdes porque eu gosto de você. Eu gosto mesmo de você. E eu gosto de você mais ainda quando você não sabe disso. Eu gosto de você até quando você não conhece os meus gatos - e eu gosto deles também. Mas eu gosto mais de você, porque você não sabe que eu estou doente. Você não sabe o número da minha casa e nunca entrou pela minha porta. É justamente por isso que eu gosto de você. Eu acho que só deixo de gostar de você quando me lembro que você não me conhece. Mas se conhecesse eu apertaria a sua mão e continuaria gostando de você.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

O exercício da paixão

Eu sempre quis escrever sobre maio de '68. Não porque tenha algum interesse no movimento estudantil, mas porque sempre quis falar sobre como as belas francesas empunhavam bandeiras como se fossem espadas durante a revolução, e sobre como os jovens eram arrastados pelas calçadas nas fotos de Serge Hambourg. Foi por isso que resolvi ser jornalista. Gosto de pensar que o jornalista é um contador de histórias. Ele está lá quando as coisas acontecem e depois fala do que viu. Devo dizer também que um bom jornalista nunca diz o que acha do que viu, mas faz com que as pessoas criem opiniões a partir do seu olhar.
O ano passado foi maçante. Meus jornalistas contadores de histórias interiores ficaram internados por um longo tempo. Aprendi com o meu primeiro ano de faculdade que o "fazer jornalístico" é o exercício do "não poder". Você não pode interrogar no título, não pode utilizar travessões, não pode deixar de usar o lead nas factuais, não pode usar uma série de adjetivos, não pode dar muitos rodeios... Você tem que ser preciso. Você tem que seguir um padrão.
Eu pensei em desistir e fazer cinema ou qualquer outra coisa com liberdade criativa. Só não segui em frente porque acredito no jornalismo literário e acredito que há muito o que contar sobre a realidade. Não há a necessidade de se entregar à ficção.
Tomás Eloy Martínez certa vez disse que se os jornais cada vez mais se recusam a publicar histórias vívidas, não há porque culpar a tv ou a internet por seus eventuais fracassos, e sim à sua própria falta de fé na inteligências das pessoas. Eu ainda diria mais: se os jornais não se renovam e continuam publicando matérias velhas e quadradas, é porque perderam a fé na inteligência de seus próprios repórteres. Jornalista escreve pra ser lido e não pra orgulhar a imprensa norte americana com o seu amado lead. Posso estar equivocada, mas ainda acredito que pessoas gostam de histórias. E não estou dizendo que certos textos não devam ser meramente informativos, eu estou dizendo que desistir do jornalismo que trata das pessoas é uma tremenda falta de fé e, de certa maneira, de humanidade. Simplesmente não consigo ser uma jornalista refém da globalização, dessas que tratam o relacionamento humano com tanta impessoalidade, frieza e superficialidade.

sábado, 17 de abril de 2010



Será que eu já não sei por onde procurar ou todos os caminhos dão no mesmo? (Lenine)

quarta-feira, 3 de março de 2010

Diga a verdade, diga a verdade, diga a verdade


A vida tem me dado uns beliscões e chorar não faz o meu amargo parecer mais doce. Me sobram apenas cinco segundos todos os dias, e esses, somente esses, empresto pra tristeza. Como Claire Colburn diria: "Aproveite, desfrute, descarte". Eu só gostaria de ter uma maquina do tempo, como num desses filmes ruins de sessão da tarde, e voltar a ser criança outra vez. Até os meus doze anos as coisas passavam como um borrão, na minha infância nada era tão pessoal.
Minha professora de psicologia disse que o meu jeito "don't worry, be happy" de ser poderia me transformar numa panelinha de pressão, but... who cares? Isso só me faz pensar: reclamar, xingar os deuses, alterar o meu humor... Alguma dessas coisas pode me dar um pouco mais de paz?
Acho que essa sou eu. Os dias passam, os cigarros queimam, os problemas aparecem, os problemas se resolvem e chega o fim do mês. Faz tanto tempo desde a última vez que algo bom me fez tremer. O mundo é preto e branco e eu gosto é de rosa.
Queria ser como uma igreja. Grande, silenciosa e cheia de fé.
As coisas boas acontecem, não tenho dúvidas disso, mas sempre existe a espera. Entrei numa das grandes filas de espera, mas acredito que se a fila é grande, é porque é nela que se obtém as melhores coisas. Eu posso esperar um pouco mais pra ter o melhor, acho que mereço tudo isso. E se não mereço, por favor, Deus, me mostre um jeito de ser melhor. Afinal, se seguir em frente é não merecer, eu posso encontrar um meio de parar.