domingo, 16 de maio de 2010

Há amor

Ele pensou em jogar fora toda a beleza que adquiriu durante aqueles anos e sequer exitou ao chorar: não há amor. Mas havia amor. Sempre houve. Mesmo quando não vinha de todas as partes.
Porém, se ele afirma, talvez deva explicar: e o que é amor?
Procurar a paz do outro lado da rua? Não, isso é um erro, é a beira do abismo. Esse tipo de sentimento destrói. Se não fosse por ele, a instrução errada jamais teria sido seguida. Quando ela deixou de querer voar, ele deveria ter beijado suas asas. Amor deve ser suportar quatro asas.
Mas quem vê o amor mesmo é ela. É aquele que arrepiou a espinha, que fez ele chorar. Foi o amor dela que o curou quando ele andava por aí carregando aquele olhar de guaxinim ferido. Ela sempre foi a erva, a camomila, a droga, a sensibilidade. Era ela quem sentia alguma coisa entre o estômago e o coração quando ele falava.
Ele, por outro lado, só sabia que certas coisas o faziam bem. Foi por isso que correu os dedos pelos joelhos dela. Ele sabia que ela já estava cansada de se prostrar, mas não sabia que aqueles dedos na pele é que são o amor.
É por isso que ela continua a acreditar veemente: nos olhos vermelhos dele há amor. Mesmo que o grito diga o contrário. Se ele grita, só pode ser por amor. De que outro modo ele se importaria? Ela o perdeu onze vezes só para ganhá-lo. E agora, mais uma vez, ela o perdia. Ele sempre seria guaxinim e ela queria voar pela décima segunda vez.

domingo, 9 de maio de 2010

Eu gosto de você

Eu gosto de você quando você não me liga pra desejar boa noite. Eu gosto de você mesmo que você nem saiba que horas eu durmo. Eu gosto de você quando você não leva o meu mocaccino antes da aula, quando você não se importa com o meu novo corte ou quando não dá a mínima pra minha cara lavada. Eu nem gosto muito de maquiagem mesmo. E eu gosto de você quando você não sabe disso. Eu gosto quando você não me abraça e diz que volta amanhã ou que volta algum dia. Eu gosto de você quando você não vem. Eu gosto quando você não fecha os olhos, não reclama dos meus ciúmes e não segura a minha mão. Você sequer me deixa dizer que eu sou a garota mais feliz que já segurou um martini e eu sou feliz. Mas é só porque eu gosto de você e porque eu gosto de "Vanilla sky". Mas eu gosto ainda mais de você porque você nem sabe de que filmes eu gosto. Eu gosto dos seus olhos verdes. Eu gosto mais de olhos castanhos, é verdade, mas eu gosto de olhos verdes também. Eu gosto de olhos verdes porque eu gosto de você. Eu gosto mesmo de você. E eu gosto de você mais ainda quando você não sabe disso. Eu gosto de você até quando você não conhece os meus gatos - e eu gosto deles também. Mas eu gosto mais de você, porque você não sabe que eu estou doente. Você não sabe o número da minha casa e nunca entrou pela minha porta. É justamente por isso que eu gosto de você. Eu acho que só deixo de gostar de você quando me lembro que você não me conhece. Mas se conhecesse eu apertaria a sua mão e continuaria gostando de você.