sexta-feira, 16 de julho de 2010

Cotidiano

O sol foi surgindo gradualmente e os meus olhos passaram a se comprimir na mesma medida. Era o peso da luz acordando o meu sono.
Observei as cortinas que eram movidas pelo vento que apagava a fumaça saída da tua xícara e o som uniforme dos grilos foi se esgotando. Me lembrei de como costumava reproduzir esse mesmo som quando o silêncio se instalava depois de uma das suas perguntas impetuosas. Mas pela manhã a calma impera.
Eu me sentia tão esmagada que meus ossos gritavam por socorro, mas apesar de parecer que eu havia corrido uma maratona a minha dor não havia sido causada pelo esforço físico. Era uma dor prazerosa. Era felicidade, porque eu sobrevivi à mais uma noite com você, fazendo com que pela manhã só restasse a tua voz rouca, vencida pelo cansaço, e duas mãos inquietas que se movimentavam num esforço inútil, tentando explicar o inexplicável. Acho que Wayne Coyne estava com a razão no rádio do táxi que me levou até você pela primeira vez. Cheguei a pensar que todos os poemas, padrões e raças cujo mundo foi tragado pelo mar, de Neil Gaiman, não faziam o menor sentido porque você deixava o mundo todo azul-celeste quando torcia os lábios, lutando contra o seu melhor sorriso: o que teima em se abrir quando me chama pelo nome.
O sol brilhou mais forte e meus olhos se fecharam por alguns segundos. Sua respiração se tornou mais pesada e próxima. Perto de você o planeta é uma pequena ilha.
E assim se passou um quarto da manhã.

Um comentário:

Marina Wolff disse...

que intenso! bom sentir os sentimentos desprendendo das coisas, tornando-se palpáveis, audíveis, e até com cheiro de alguma coisa q nunca conseguimos identificar.
lindo texto
;D