Embaçou os olhos ainda mais depois de tanto apertá-los. Achava que poderia parecer vulnerável se piscasse e admitisse que guardava lágrimas pelos cantos dos globos oculares. Dói demais deixar rolar. É mais fácil esconder dentro da gaveta e assim o fez. Cento e oitenta graus na chave, um coração protestante e uma mão trêmula que lançava o objeto de metal para longe da vista. Ficou tudo lá, com durex laranja no buraco da fechadura. É proibido escorrer. É proibido lembrar.
Sabia que no fundo o restante da espécie agia da mesma forma. Ainda se lembrava do jardim de infância, das crianças rodando, perdendo o equilíbrio e comprimindo o choro de tanta autocompaixão. Tomava como consolo, embora nunca houvesse compreendido. Mas as crianças choravam porque outros olhos as flagravam. Ossos no asfalto são nada perto daquilo que não tem corpo físico. Palavras e risos é que matam. Eles saem pelos lábios desses seres humanos tão peculiares que se divertem às custas da pele ralada. Os mesmos que fazem justiça parecer só mais uma palavra sem cabimento criada para o vocabulário cristão.
Lamentou e sentiu a terra girar. As cores mudaram, os olhos pesaram e as antigas lágrimas agora pareciam areia escondida atrás das pálpedras. Sonhou com um campo cheio de gangorras, dois balões coloridos e algumas outras crianças. No sonho exitou mas logo correu. O subconsciente sabia que o mundo era doce demais para ser disperdiçado. Só é feliz quem tem cicatriz no joelho. Ela sabia disso. Sabia tanto que colocou o velho disco pra tocar.
"Mantenha a sua cabeça erguida.
Não precisa de pressa.
Estamos todos esperando, esperando para morrer."
2 comentários:
JESUS AJUDA :~~~~~~~~~~
(engraçado, usei o "joelho ralado" pra comparar com um "coração partido" uma vez. rs)
beijo :)
adorei!
gosto de textos que remetem a infância. E mostram que os sentimentos continuam os mesmos, somente as circunstâncias que mudaram.
;D
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