Eu costumava me machucar bastante durante a minha infância. Se considerarmos que eu era uma criança, isso é fica bem normal, mas eu ainda gosto de ressaltar que é coerente somar minha idade com o fato de que a minha cabeça vive na lua (desde sempre), e então os meus joelhos só podiam viver nas pedras.
Minha mãe, por sua vez, nunca foi de passar a mão na cabeça, e isso a rendeu várias críticas. De certo modo, eu acreditava que ela tinha uma espécie de intolerância à erros, o que me deixava bem irritada, porque, afinal, eles são humanos. Hoje, felizmente, vejo que ela fazia a coisa certa.
Me lembro dela pegando o Mertiolate, passando nos meus machucados e dizendo: "Tá doendo? É pra você aprender". E eu aprendi. Fiquei louca de raiva, mas, quando cai de bicicleta, não tentei mais andar; quando me queimei no fogão, deixei de chegar perto dele até alcançar uma idade razoável, etc. Sendo assim, fico grata. Não sinto que perdi na vida por abrir mão de certas coisas e vejo minha mãe como alguém que me protegia e curava enquanto ensinava o que era errado. Não como uma pessoa cruel.
Gostaria de ter começado a pensar assim antes, porque nem sempre pensei. Até uma certa altura, achei que havia sido negligenciada e que deveria cometer os mesmos erros várias vezes, afinal, tinha esse direito. E tenho, o que faz de mim uma completa imbecil, com o perdão da palavra. Eu sou uma daquelas pessoas que não deveriam ter escolha.
Meu maior problema sempre foi o ser humano (que derrete meu coração de manteiga). Basta um biquinho pra eu ceder. Simplesmente faço tudo por quem eu amo, desde que isso não vá me machucar fisicamente ou machucar outra pessoa que amo gravemente, e isso está bem errado.
Alguns anos atrás, no meio de uma D.R., ouvi a seguinte frase: "Cada escolha é uma renúncia". E quando eu me submeto a certas situações, acredito que estou renunciando minha dignidade, minha paz, meu orgulho e meu bom senso, porque ele é o único que já sabe o final e também sabe que eu me interesso pelos meios.
Mas hoje, só hoje, resolvi ouvir minha mãe e lembrar da frase citada na D.R. - e não foi só pra escrever sobre isso no blog, foi pra dizer que me escolhi. Renuncio à tudo que possa me fazer mal. Resolvi não persistir no erro, porque isso não vai fazer de mim uma super heroína, só vai machucar.
Então agora é assim. Tá doendo? Tá. Mas é pra eu aprender. Aprender a não me renunciar outra vez.
segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011
terça-feira, 15 de fevereiro de 2011
Iaia, se eu peco é na vontade
Três fatos: Te perdi pelas gavetas bagunçadas da minha memória falha. Te procurei e só achei a nossa cor, a nossa frase e a nossa música. Esses recortes não te desenham mais.
Uma história póstuma: Dormi das 5 às 16 horas. Cada hora pareceu 24. Meu corpo, agoniado, me disse que não aguentava mais. Implorou por um pouco de claridade, água, comida, toque, mas desobedeci. Permaneci estática, pensando, pensando. Virei mente e coração. Pensei em você. Pensei na rua da tua casa, que não vejo há anos, e nas palavras que depositei no concreto. "Não me vejo passando por aqui sem ser ao teu lado", eu disse. Mas agora eu passo.
As nossas manias e dias compartilhados, no fim das contas, deixaram de existir. Viraram lembranças que, mais tarde, foram esquecidas, descartadas, mesmo sem propósito, afinal, somos seres humanos, tendemos ao esquecimento. O meu telefone nunca mais tocou anunciando o seu nome. Não passei mais pela estrada que desejei que fosse sempre até você. Parei de implorar para que o vento soprasse à nosso favor. Determinada, não pequei mais na vontade de ter uma amor de verdade. E então o vento parou.
Algumas reflexões: A gente diz que não sabe viver sem alguém, mas depois aprende. É de lei.
E aí ousa deixar doer.
Acha errado, porque deveria ser para sempre e não foi.
Mas o que há de tão mau assim?
Uma história póstuma: Dormi das 5 às 16 horas. Cada hora pareceu 24. Meu corpo, agoniado, me disse que não aguentava mais. Implorou por um pouco de claridade, água, comida, toque, mas desobedeci. Permaneci estática, pensando, pensando. Virei mente e coração. Pensei em você. Pensei na rua da tua casa, que não vejo há anos, e nas palavras que depositei no concreto. "Não me vejo passando por aqui sem ser ao teu lado", eu disse. Mas agora eu passo.
As nossas manias e dias compartilhados, no fim das contas, deixaram de existir. Viraram lembranças que, mais tarde, foram esquecidas, descartadas, mesmo sem propósito, afinal, somos seres humanos, tendemos ao esquecimento. O meu telefone nunca mais tocou anunciando o seu nome. Não passei mais pela estrada que desejei que fosse sempre até você. Parei de implorar para que o vento soprasse à nosso favor. Determinada, não pequei mais na vontade de ter uma amor de verdade. E então o vento parou.
Algumas reflexões: A gente diz que não sabe viver sem alguém, mas depois aprende. É de lei.
E aí ousa deixar doer.
Acha errado, porque deveria ser para sempre e não foi.
Mas o que há de tão mau assim?
quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011
Doce
Citei Los Hermanos na tua geladeira. Escrevi sobre a minha indiferença calculada que implora por atenção, terminei com "deixa estar" e usei os imãs de coração que comprei naquela feira de domingo para pendurar o pedaço de papel. Foi premeditado. Queria deixar uma marca, me largar pela tua casa, te fazer acreditar em mim todas as vezes que resolvesse tomar um pouco do sorvete melado que já está há uns 45 dias no seu congelador.
Na semana seguinte, nos citei em uma redação qualquer. Nos banalizei, eu sei. Falei sobre recomeços, nosso assunto predileto. Contei, impulsivamente, que não acreditávamos neles, que cortamos a segunda-feira e o primeiro dia do ano do nosso calendário porque o nosso tempo é uma coisa só - e, segundo você, ainda há muito tempo para nós.
Tive que ler em voz alta. Acharam a maior besteira. "Pura pieguice", ouvi.
Deixei estar. Só eu sei: você é ainda mais doce que o teu sorvete abandonado.
Na semana seguinte, nos citei em uma redação qualquer. Nos banalizei, eu sei. Falei sobre recomeços, nosso assunto predileto. Contei, impulsivamente, que não acreditávamos neles, que cortamos a segunda-feira e o primeiro dia do ano do nosso calendário porque o nosso tempo é uma coisa só - e, segundo você, ainda há muito tempo para nós.
Tive que ler em voz alta. Acharam a maior besteira. "Pura pieguice", ouvi.
Deixei estar. Só eu sei: você é ainda mais doce que o teu sorvete abandonado.
terça-feira, 1 de fevereiro de 2011
Por um fevereiro melhor
Para o único que pode melhorar meu mês.
"Você não entende", minha memória falha resolveu me devolver esse momento. Essa foi a frase que te fez desligar o telefone permanentemente, não responder emails e dar ordens à nova secretária, dizendo que não quer saber de mim, não é?
Mas eu, tentando como louca, continuei mandando todas aquelas mensagens sem efeito. "O que eu fiz?". "Sinto muito". "Mesmo". "Me liga". Agora até me sinto um pouco envergonhada.
Você não retornou e acho que já te entendi. Mas olha, só pra você saber, não vou cansar de me explicar e acho que eventualmente você poderia tentar fazer o mesmo. É que eu realmente acredito que nós não precisamos de amor. Você diz que precisa, mas acho que deveria pensar melhor sobre isso. Eu sequer entendo o conceito dessa palavra. Mas, apesar disso, acredito em nós. Não de um jeito moderno, descompromissado, mas de qualquer jeito que sacie essa minha vontade de ficar perto, junto, dentro. De ter a quem ligar, de ter alguém pra atender.
Então se você quiser voltar, eu te deixo ditar as regras. Tudo pra me livrar dessa dor - quase física - que acompanha a falta dos teus beijos assinando o "bom dia" rabiscado duas vezes por semana no meu espelho embaçado. Considere. A chave ainda é a mesma, assim como a vontade de ligar o teu chuveiro e me molhar de você.
Promessas: continuar rindo dos seus vizinhos, como você tanto gosta, e do mundo dos outros também.
Exigência: me deixar te mostrar o meu.
Beijos.
P.S.: Não gostei da nova secretária.
"Você não entende", minha memória falha resolveu me devolver esse momento. Essa foi a frase que te fez desligar o telefone permanentemente, não responder emails e dar ordens à nova secretária, dizendo que não quer saber de mim, não é?
Mas eu, tentando como louca, continuei mandando todas aquelas mensagens sem efeito. "O que eu fiz?". "Sinto muito". "Mesmo". "Me liga". Agora até me sinto um pouco envergonhada.
Você não retornou e acho que já te entendi. Mas olha, só pra você saber, não vou cansar de me explicar e acho que eventualmente você poderia tentar fazer o mesmo. É que eu realmente acredito que nós não precisamos de amor. Você diz que precisa, mas acho que deveria pensar melhor sobre isso. Eu sequer entendo o conceito dessa palavra. Mas, apesar disso, acredito em nós. Não de um jeito moderno, descompromissado, mas de qualquer jeito que sacie essa minha vontade de ficar perto, junto, dentro. De ter a quem ligar, de ter alguém pra atender.
Então se você quiser voltar, eu te deixo ditar as regras. Tudo pra me livrar dessa dor - quase física - que acompanha a falta dos teus beijos assinando o "bom dia" rabiscado duas vezes por semana no meu espelho embaçado. Considere. A chave ainda é a mesma, assim como a vontade de ligar o teu chuveiro e me molhar de você.
Promessas: continuar rindo dos seus vizinhos, como você tanto gosta, e do mundo dos outros também.
Exigência: me deixar te mostrar o meu.
Beijos.
P.S.: Não gostei da nova secretária.
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