Comecei 2010 lendo um dos livros da minha vida. Hoje falam dele como se falassem de auto ajuda clichê, mas ele nunca vai sair de mim. O título é "Comer, Rezar, Amar", e esse livro tem uma parte muito interessante que fala sobre cada pessoa/cidade ter a sua própria palavra. Eu bem que tentei inovar e dar uma palavra pra 2010 também, mas descobri que cada dia de 2010 tem uma palavra e que o máximo que eu posso fazer é dizer que 2010 foi pura felicidade. Comi. Me alimentei de sorrisos e de vida. Isso nunca mais me faltará. Amém. Rezei vivendo e acreditando que cada suspiro meu pode ser uma prece. Um agradecimento a Deus, porque ele sempre foi muito bom comigo. Me deu uma família cheia de erros e acertos que nunca me abandona, um sorriso que eu não me canso de abrir, amigos que eu nem tenho palavras pra descrever, duas sobrinhas maravilhosas que são absolutamente amáveis e cheias de vida, um afilhado que está a caminho e que vai chegar à esse mundo com saúde e amor pra dar e vender, o ar que eu respiro, os braços que eu uso pra abraçar o mundo, a minha inteligência e o meu dom de ver muito no pouco. E é por isso que todo ano é o melhor ano da minha vida. Porque só de ouvir um "eu te amo", tenho um ano feito. Aí entra a parte do amar. E amar uma grande quantidade de coisas e pessoas, diga-se de passagem. Mesmo que 2010 não tenha sido o ano do amor maior. Mas esse pode vir em 2011, 2012, 2013... Eu tenho tempo. Afinal, eu não posso reclamar. Sou uma bagunça. Como diz a Cami, eu estou esperando por um príncipe porque não fui feita para os sapos, assim como estou esperando por um sapo porque não fui feita para os príncipes. E um dia o meu nem-sapo-nem-príncipe vai aparecer. Mas até lá, que a felicidade seja minha. E depois disso, que a felicidade seja minha e nossa.
Enfim... 2010, obrigada por me fazer feliz. 2011, seja bem vindo. Te regarei com muita felicidade e amor.
P.S.: 2011, você pode ajudar o Grêmio a nos trazer a América outra vez? E o mundo? Obrigada.
sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
terça-feira, 21 de dezembro de 2010
Jéss loves the classics
Porque pinheirinhos de natal sempre serão mágicos, assim como a saga Harry Potter. Porque chuva nunca deixará de lavar a alma, assim como cobertas e filmes sempre combinarão com frio. Porque preto sempre parecerá emagrecer quem o usa uns cinco quilos, assim como chocolate nunca deixará de consertar corações por alguns minutos. Porque nunca existirá uma cena tão genial para ilustrar a passagem do tempo quanto aquela de Notting Hill, onde toca "Ain't No Sunshine", assim como eu nunca deixarei de fazer tudo errado (e de rir disso no final).
C'est La Vie.
C'est La Vie.
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
Para ninguém, sobre você
Na minha opinião, estou escrevendo para ninguém. É assim que penso. Caso pensasse de outra forma, me frustraria.
Que fique claro: Minha intenção não é a de negar a existência do pronome de segunda pessoa que paira sobre minhas linhas, mas é que quando digo que escrevo para ninguém, firmo meu descompromisso.
Não escrevo para você, embora seja sobre você. Não escrevo para mim, embora seja sobre mim. De mim sei bem. Não há a necessidade de me colocar por escrito. E você... bem, seus olhos desatentos jamais se dariam conta de que escrevo para você, caso o fizesse. Então prefiro não fazê-lo. Deixo tudo solto, sem destinatário.
Escrevo só por escrever.
Mas se em algum momento você se der conta de que minhas letras têm seu rosto, não deixe de dobrá-las quatro vezes e colocá-las no bolso da camisa, porque assim elas ficam mais perto do teu peito. E se a noite, quando o silêncio tomar conta do teu corpo, elas começarem a ecoar sozinhas, sem propósito, espero que sejam doces. Foi assim que as fiz. Com a doçura de alguém que trabalhou tanto, mas ao fim do dia só pensou em você. Enquanto tomava um banho quente, assistia ao telejornal, se debruçava sobre o livro de cabeceira ou checava os emails: só pensou em você. E a cada vez que pensava, acendia estrelas dentro de si. Douradas, azuis e amarelas. Pontos brilhantes que iluminaram o corpo e - depois de muito tempo - o coração.
Que fique claro: Minha intenção não é a de negar a existência do pronome de segunda pessoa que paira sobre minhas linhas, mas é que quando digo que escrevo para ninguém, firmo meu descompromisso.
Não escrevo para você, embora seja sobre você. Não escrevo para mim, embora seja sobre mim. De mim sei bem. Não há a necessidade de me colocar por escrito. E você... bem, seus olhos desatentos jamais se dariam conta de que escrevo para você, caso o fizesse. Então prefiro não fazê-lo. Deixo tudo solto, sem destinatário.
Escrevo só por escrever.
Mas se em algum momento você se der conta de que minhas letras têm seu rosto, não deixe de dobrá-las quatro vezes e colocá-las no bolso da camisa, porque assim elas ficam mais perto do teu peito. E se a noite, quando o silêncio tomar conta do teu corpo, elas começarem a ecoar sozinhas, sem propósito, espero que sejam doces. Foi assim que as fiz. Com a doçura de alguém que trabalhou tanto, mas ao fim do dia só pensou em você. Enquanto tomava um banho quente, assistia ao telejornal, se debruçava sobre o livro de cabeceira ou checava os emails: só pensou em você. E a cada vez que pensava, acendia estrelas dentro de si. Douradas, azuis e amarelas. Pontos brilhantes que iluminaram o corpo e - depois de muito tempo - o coração.
terça-feira, 14 de dezembro de 2010
Boa noite, boa viagem
Há um tempo atrás eu fui levar o meu contrato na faculdade. Cheguei no escritório estranho da Central de Carreiras e a menina mais simpática do mundo me atendeu. Ela disse que eu podia pegar o tal contrato em três dias úteis, mas precisava levar uma declaração da coordenadora do curso para retirá-lo.
Agora já faz três semanas desde que eu levei o contrato na UP - e eu nunca mais o vi. Até peguei a declaração, mas tomei chuva com ela (sim, eu sou um prodígio), que ficou toda amassada, e aí eu resolvi adiar o dia de pegar o contrato.
Com a declaração eu já tentei de tudo. Passei ferro, coloquei no meio de um livro super pesado, tirei xerox, pensei em pedir outra... Tudo! Mas nada dá certo. Não desamassa e eu não posso mais adiar. Não dá pra esperar. Tem que ser amanhã.
E o que eu quero dizer com tudo isso é que eu acho que você é a minha declaração personificada. Eu, com a minha mania de perfeição, não sei te aceitar. Não sei não pensar que você vive em outro mundo, que está amassado, do outro lado da rua ou qualquer coisa parecida. Já não sei mais nem que metáfora usar. E esse é o problema. Você me rouba até as palavras. Eu queria escrever alguma coisa que te fizesse deixar de ser tão... você. Queria te pedir pra gostar de mim ou simplesmente te desejar uma boa noite e uma boa viagem, mas quando eu abro a droga do editor de textos, sai um texto que começa com "Há um tempo atrás eu fui levar o meu contrato na faculdade". Dá pra ser mais deprimente?
Agora já faz três semanas desde que eu levei o contrato na UP - e eu nunca mais o vi. Até peguei a declaração, mas tomei chuva com ela (sim, eu sou um prodígio), que ficou toda amassada, e aí eu resolvi adiar o dia de pegar o contrato.
Com a declaração eu já tentei de tudo. Passei ferro, coloquei no meio de um livro super pesado, tirei xerox, pensei em pedir outra... Tudo! Mas nada dá certo. Não desamassa e eu não posso mais adiar. Não dá pra esperar. Tem que ser amanhã.
E o que eu quero dizer com tudo isso é que eu acho que você é a minha declaração personificada. Eu, com a minha mania de perfeição, não sei te aceitar. Não sei não pensar que você vive em outro mundo, que está amassado, do outro lado da rua ou qualquer coisa parecida. Já não sei mais nem que metáfora usar. E esse é o problema. Você me rouba até as palavras. Eu queria escrever alguma coisa que te fizesse deixar de ser tão... você. Queria te pedir pra gostar de mim ou simplesmente te desejar uma boa noite e uma boa viagem, mas quando eu abro a droga do editor de textos, sai um texto que começa com "Há um tempo atrás eu fui levar o meu contrato na faculdade". Dá pra ser mais deprimente?
domingo, 12 de dezembro de 2010
Com açúcar, com afeto
Ela abaixa o volume da voz e adocica os olhos. Deixa o ambiente sereno antes de dizer que você não é pra mim. E diz assim, com um jeitinho de quem quer cuidar. De quem sente o tal do amor que se traduz em palavras. Com açúcar, com afeto.
Eu, de cabeça baixa, finjo que não estou contrariada. Digo que faz sentido. E o que não faz sentido é a minha teimosia. A minha vontade de desobedecer as leis da natureza, a lógica e a razão. Meu jeito de acreditar que o mundo não tem fim. De ligar mil vezes sabendo que não vou ser atendida. De empurrar aquele bidê que não sai do lugar. De não estudar para a prova mais importante do semestre.
Minha mania de acreditar em contos de fada e de apostar em que algum caminho torto me leva pra você.
Mas isso realmente não faz o menor sentido.
Eu, de cabeça baixa, finjo que não estou contrariada. Digo que faz sentido. E o que não faz sentido é a minha teimosia. A minha vontade de desobedecer as leis da natureza, a lógica e a razão. Meu jeito de acreditar que o mundo não tem fim. De ligar mil vezes sabendo que não vou ser atendida. De empurrar aquele bidê que não sai do lugar. De não estudar para a prova mais importante do semestre.
Minha mania de acreditar em contos de fada e de apostar em que algum caminho torto me leva pra você.
Mas isso realmente não faz o menor sentido.
sexta-feira, 26 de novembro de 2010
Porque hoje é sexta...
E o mundo está muito mais bonito!
"Amo a musica, acredito na melhoria do planeta, confio em que nem tudo está perdido, creio na bondade do ser humano e intuo que a loucura é fundamental. Agora só me faltam carneiros e cabras pastando solenes no meu jardim.
Viver é ótimo."
Elis Regina
"Amo a musica, acredito na melhoria do planeta, confio em que nem tudo está perdido, creio na bondade do ser humano e intuo que a loucura é fundamental. Agora só me faltam carneiros e cabras pastando solenes no meu jardim.
Viver é ótimo."
Elis Regina
domingo, 14 de novembro de 2010
Pensando alto
Faz tanto tempo que eu não escrevo alguma coisa exclusivamente pra postar no blog... Até pensei em escrever uma crônica ou um conto, mas o fato é que eu não quero escrever algo poético, mascarado. Eu quero escrever sobre mim, sobre a vida, sobre as pessoas que eu amo... Enfim, sobre o que eu sinto (sem entrelinhas). Hoje não é um bom dia pra roubar ou inventar vidas.
Sexta-feira foi meu aniversário e, pela primeira vez, eu senti que tudo estava no seu devido lugar em um dia de aniversário. Ouvi tantas coisas doces, que eu tenho certeza que vieram do fundo de alguns corações por aí, e até fiquei impressionada com a impressão que algumas pessoas têm de mim. Me senti verdadeiramente eu. Transparente, entregue. Como se eu me olhasse no espelho e visse exatamente o que muita gente vê.
Além disso, me senti plenamente feliz por conseguir olhar para pequenas coisas e ver grandes coisas. Se há dois anos eu teria ficado triste por não receber o abraço que sonhei de uma pessoa específica, sexta fiquei feliz porque outra pessoa, que eu nem sonhava gostar tanto de mim, me abraçou com muita devoção. Eu acho que tenho mais pessoas legais na minha vida do que consigo perceber.
Aliás, ainda na sexta, eu tive uma conversa muito boa com a Nicole, que tem sido o meu sol. Ela estava falando sobre o quanto a gente ama as pessoas e não deixa elas saberem. E é verdade. Eu amo tanto a minha vida e todas as pessoas que fazem ela ser melhor, e eu não falo isso sempre. Ou melhor, algumas pessoas nunca ouviram isso de mim. Então vale a dica: se você me faz sorrir e eu te dou alguma atenção, há uma grande probabilidade de eu amar você (leia isso, mãe! hahaha). E se você já ouviu alguma reclamação minha sobre a sua falta de atenção, aí a probabilidade é bem maior.
Enfim, acho que eu só queria escrever isso. Eu amo a minha vida, ela é linda e esse ano eu conheci e reconheci muita gente especial. Portanto, aí vai o meu agradecimento, Deus, porque eu sei que tudo tem o seu dedo. E o outro agradecimento vai para as pessoas da minha vida, ipês, gatos e limões. Essas coisas fazem a minha existência fazer algum sentido.
Sexta-feira foi meu aniversário e, pela primeira vez, eu senti que tudo estava no seu devido lugar em um dia de aniversário. Ouvi tantas coisas doces, que eu tenho certeza que vieram do fundo de alguns corações por aí, e até fiquei impressionada com a impressão que algumas pessoas têm de mim. Me senti verdadeiramente eu. Transparente, entregue. Como se eu me olhasse no espelho e visse exatamente o que muita gente vê.
Além disso, me senti plenamente feliz por conseguir olhar para pequenas coisas e ver grandes coisas. Se há dois anos eu teria ficado triste por não receber o abraço que sonhei de uma pessoa específica, sexta fiquei feliz porque outra pessoa, que eu nem sonhava gostar tanto de mim, me abraçou com muita devoção. Eu acho que tenho mais pessoas legais na minha vida do que consigo perceber.
Aliás, ainda na sexta, eu tive uma conversa muito boa com a Nicole, que tem sido o meu sol. Ela estava falando sobre o quanto a gente ama as pessoas e não deixa elas saberem. E é verdade. Eu amo tanto a minha vida e todas as pessoas que fazem ela ser melhor, e eu não falo isso sempre. Ou melhor, algumas pessoas nunca ouviram isso de mim. Então vale a dica: se você me faz sorrir e eu te dou alguma atenção, há uma grande probabilidade de eu amar você (leia isso, mãe! hahaha). E se você já ouviu alguma reclamação minha sobre a sua falta de atenção, aí a probabilidade é bem maior.
Enfim, acho que eu só queria escrever isso. Eu amo a minha vida, ela é linda e esse ano eu conheci e reconheci muita gente especial. Portanto, aí vai o meu agradecimento, Deus, porque eu sei que tudo tem o seu dedo. E o outro agradecimento vai para as pessoas da minha vida, ipês, gatos e limões. Essas coisas fazem a minha existência fazer algum sentido.
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
Eu não traio
Infidelidade, disse ele. Fiquei meio assustada. Como assim, Infidelidade? Aquele filme me enche de tédio, como a maioria dos filmes que têm o Richard Gere. Não pode. Dá pra gostar de Flashdance, Lolita, Embalos de Sábado à Noite... Sei lá, qualquer coisa, menos Infidelidade. Mas ele não mudou de ideia, então era isso. Eu estava namorando o cara que gosta de “Infidelidade”.
Prometi assistir de novo e procurar mais sobre o filme no google. Resolvi procurar no google primeiro. Cheguei em casa, abri o notebook e comecei a digitar. Google.com. Enter. Infidelidade. Enter. 540.000 resultados. Na primeira página, artigos psicológicos, uma música interpretada por Caetano Veloso e uma pesquisa curiosa. Do Caetano, eu só gosto de Nosso Estranho Amor. É a música tema de Romance, aquele filme que tem o Wagner Moura. Aquele sim é filme de verdade. Infidelidade nem aparece na primeira página da busca. Mas voltando aos resultados, resolvi ficar com a pesquisa curiosa mesmo.
A pesquisa dizia que os brasileiros são os mais promíscuos e infiéis da América Latina. E por “brasileiros” entenda “brasileiras” também. Que absurdo. Eu nunca pulei a cerca. Minha mãe sempre diz que a gente pode trair até por pensamento, mas eu nem penso nessas coisas. Meu namorado tem um gosto bem ruim, mas é ótimo. Enfim, google me deu fome. Maldita publicidade. Fui à padaria.
No caminho, vi uma menininha birrenta. Ela não tinha os dois dentes da frente e queria um pirulito que vira numa vitrine. A mãe não tinha o dinheiro, pelo jeito. Menina mimada. E depois ainda falam de “lei da palmada”. Me poupe. Em seguida, vi um velho de boina fumando. Ele estava se achando muito francês e o cigarro era um Derby. Andei mais uns passos e vi a vizinha loira do 401. Essa sim tem fama. Dizem que o marido já nem passa mais pela porta por causa dos “galhos”. Ainda bem que eu não traio e nem penso nisso. Quase chegando à padaria, vi um loiro bonito que carregava um Labrador pela calçada. Parecia simpático. Cheguei a parar pra acariciar o cachorro. Pensei em ter um cachorro também, assim nossos cachorros começariam a brincar e nós teríamos que nos olhar e sorrir meio sem graça. Com sorte, a regata dele pararia no meu chão depois disso. Ô, lá em casa. Foi então que ele me deu uma piscadinha. Ai, credo. Ainda bem que eu não traio. Nem penso nessas coisas.
[Aulas sobre crônicas podem ser produtivas. Ou não.]
Prometi assistir de novo e procurar mais sobre o filme no google. Resolvi procurar no google primeiro. Cheguei em casa, abri o notebook e comecei a digitar. Google.com. Enter. Infidelidade. Enter. 540.000 resultados. Na primeira página, artigos psicológicos, uma música interpretada por Caetano Veloso e uma pesquisa curiosa. Do Caetano, eu só gosto de Nosso Estranho Amor. É a música tema de Romance, aquele filme que tem o Wagner Moura. Aquele sim é filme de verdade. Infidelidade nem aparece na primeira página da busca. Mas voltando aos resultados, resolvi ficar com a pesquisa curiosa mesmo.
A pesquisa dizia que os brasileiros são os mais promíscuos e infiéis da América Latina. E por “brasileiros” entenda “brasileiras” também. Que absurdo. Eu nunca pulei a cerca. Minha mãe sempre diz que a gente pode trair até por pensamento, mas eu nem penso nessas coisas. Meu namorado tem um gosto bem ruim, mas é ótimo. Enfim, google me deu fome. Maldita publicidade. Fui à padaria.
No caminho, vi uma menininha birrenta. Ela não tinha os dois dentes da frente e queria um pirulito que vira numa vitrine. A mãe não tinha o dinheiro, pelo jeito. Menina mimada. E depois ainda falam de “lei da palmada”. Me poupe. Em seguida, vi um velho de boina fumando. Ele estava se achando muito francês e o cigarro era um Derby. Andei mais uns passos e vi a vizinha loira do 401. Essa sim tem fama. Dizem que o marido já nem passa mais pela porta por causa dos “galhos”. Ainda bem que eu não traio e nem penso nisso. Quase chegando à padaria, vi um loiro bonito que carregava um Labrador pela calçada. Parecia simpático. Cheguei a parar pra acariciar o cachorro. Pensei em ter um cachorro também, assim nossos cachorros começariam a brincar e nós teríamos que nos olhar e sorrir meio sem graça. Com sorte, a regata dele pararia no meu chão depois disso. Ô, lá em casa. Foi então que ele me deu uma piscadinha. Ai, credo. Ainda bem que eu não traio. Nem penso nessas coisas.
[Aulas sobre crônicas podem ser produtivas. Ou não.]
terça-feira, 9 de novembro de 2010
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
GRE-nal
Pra começar, dia de Gre-Nal, pra mim, é dia de GRE-nal. Além disso, é dia de final de copa do mundo, dia de parto, dia de formatura, dia de mentir e dia de leitura em público. Eu fico tremendo feito vara verde, como as unhas, soco os móveis e grito tanto quanto o meu irmão jogando truco.
Outro aspecto muito interessante sobre o GRE-nal, é o saudosismo que ele me desperta. Eu começo a me lembrar de quando tinha 6/7 anos e meu primo me fazia caminhar pela Água Verde com uma camisa do Grêmio. A camiseta era dele, então batia nos meus tornozelos e eu quase torrava no sol, mas ficava incrivelmente feliz. A minha felicidade era quase apalpável. Ainda é.
Quando o Grêmio faz um gol em dia de GRE-nal, eu me lembro da pequena e sorridente versão de mim. E eu não mudei muita coisa. O Grêmio ainda me orgulha (e aflige).
Sobre isso, há quem diga que eu vou infartar. Dizem que é muita aflição e eu não tenho coração suficiente pra isso. A teoria é boa, mas a metáfora é ruim. Se eu infartar, é porque tenho coração demais. Pro meu Imortal, meu coração é infinito.
Outro aspecto muito interessante sobre o GRE-nal, é o saudosismo que ele me desperta. Eu começo a me lembrar de quando tinha 6/7 anos e meu primo me fazia caminhar pela Água Verde com uma camisa do Grêmio. A camiseta era dele, então batia nos meus tornozelos e eu quase torrava no sol, mas ficava incrivelmente feliz. A minha felicidade era quase apalpável. Ainda é.
Quando o Grêmio faz um gol em dia de GRE-nal, eu me lembro da pequena e sorridente versão de mim. E eu não mudei muita coisa. O Grêmio ainda me orgulha (e aflige).
Sobre isso, há quem diga que eu vou infartar. Dizem que é muita aflição e eu não tenho coração suficiente pra isso. A teoria é boa, mas a metáfora é ruim. Se eu infartar, é porque tenho coração demais. Pro meu Imortal, meu coração é infinito.
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
Para refletir:
O senhorzinho está sentado na minha frente. Ele tem 66 anos e uma pele quase negra - resultado de muitos anos de exposição ao sol. Enquanto fala, brinca com o menininho que não pára quieto no colo da mãe. Está de camisa branca e boné de campanha. Tem olhos frágeis e gosta de falar da vida.
De repente, divaga:
- Eu tenho uma casa própria, um carrinho, um casal de filhos e aposentadoria. Eu tive muita sorte... Muita sorte!
E aí, senhoras e senhores, eu penso: O que é que eu estou fazendo mesmo?
De repente, divaga:
- Eu tenho uma casa própria, um carrinho, um casal de filhos e aposentadoria. Eu tive muita sorte... Muita sorte!
E aí, senhoras e senhores, eu penso: O que é que eu estou fazendo mesmo?
domingo, 17 de outubro de 2010
Tudo pela metade
Eu admiro o que não presta. Eu escravizo quem eu gosto. Eu não entendo. Eu trago o lixo para dentro. Eu abro a porta para estranhos. Eu cumprimento. Eu quero aquilo que não tenho. Eu tenho tanto a fazer. Eu faço tudo pela metade. Eu não percebo. Eu falo muito palavrão. Eu falo muito mal. Eu falo muito mesmo sem saber o que estou falando. Eu falo muito bem. Eu minto.
Marisa Monte
Marisa Monte
terça-feira, 12 de outubro de 2010
João e Maria
Maria nasceu atrás de uma estação ferroviária. Enquanto a mãe gritava, o trem apitava. Anos depois, sentou-se no último vagão e terminou de ler Cem Anos de Solidão. Irrompeu em um choro sofrido. Pegou o espelho de bolso pra ver por onde o rímel escorria e, enquanto contornava os olhos com os dedos, viu João.
João era alagoano e tinha pele de castanha do Pará com casca. Sempre que tomava banho, cantava Belchior. Se dava bem com a vizinhança e era feito de camisas brancas, cabelos penteados e sorrisos baixos. Quando dizia “oi”, parecia querer dizer que sentia muito. Sentado sozinho na mesa, tomava um café e fitava Maria de costas, por cima da xícara.
Quando perceberam que haviam se notado, pularam das cadeiras. João queimou os lábios e derrubou o café na toalha branca. Maria derrubou o espelho, que se partiu em dez no chão, e deixou o batom vermelho escorregar.
João, nervoso, gaguejou em pensamento e seguiu na direção de Maria, segurando o tubo cor de sangue. Parando ao lado da mesa, viu a moça que ainda juntava cacos e segurava a saia que teimava em voar com o vento.
Sorriram. Falaram-se com olhares e acenos. A piscadela de Maria disse: "muito obrigada". João entendeu e lhe estendeu a mão. A partir daí, passaram a dividir a mesa, a toalha manchada de café e sete anos de sorte.
João era alagoano e tinha pele de castanha do Pará com casca. Sempre que tomava banho, cantava Belchior. Se dava bem com a vizinhança e era feito de camisas brancas, cabelos penteados e sorrisos baixos. Quando dizia “oi”, parecia querer dizer que sentia muito. Sentado sozinho na mesa, tomava um café e fitava Maria de costas, por cima da xícara.
Quando perceberam que haviam se notado, pularam das cadeiras. João queimou os lábios e derrubou o café na toalha branca. Maria derrubou o espelho, que se partiu em dez no chão, e deixou o batom vermelho escorregar.
João, nervoso, gaguejou em pensamento e seguiu na direção de Maria, segurando o tubo cor de sangue. Parando ao lado da mesa, viu a moça que ainda juntava cacos e segurava a saia que teimava em voar com o vento.
Sorriram. Falaram-se com olhares e acenos. A piscadela de Maria disse: "muito obrigada". João entendeu e lhe estendeu a mão. A partir daí, passaram a dividir a mesa, a toalha manchada de café e sete anos de sorte.
segunda-feira, 4 de outubro de 2010
Velho Amor
Pensou quatro vezes antes de virar a esquina. Chegou a contar nos dedos pra não se arrepender depois. Um, siga em frente. Dois, acabou. Três, vai doer. Quatro, é proibido gritar.
Continuou caminhando firme, olhando apenas algumas vezes para trás. O prédio branco foi diminuindo. O céu cinza foi aumentando. O peito ficou tão encharcado que já não sabia mais se chovia do lado de dentro ou do lado de fora.
Sentou-se no meio fio e pegou o bloquinho de notas. Fez um emaranhado de linhas fortes, quase rasgando o papel. Rabiscou bem fundo: nunca mais, nunca mais, nunca mais.
Arrancou o moletom do corpo tentando se livrar do cheiro acusador. Fechou os olhos e inspirou infinito. Pediu por novos ares, novo corpo, nova vida. Se lembrou do livro favorito e soube que era mesmo alagoana. Só sabia chover.
Mais tarde pegaria um táxi, subiria as escadas e giraria a chave. Desfilaria pelo apartamento vazio, ligaria o chuveiro, a água escorreria pela pele e lavaria a alma. Sairia envolta pelo vapor e abriria a porta. Ele estaria lá. Seus olhos estariam tão transbordantes que a fariam chorar outra vez.
Mesmo seca, choveria de novo. Compraria um bloquinho e outro moletom. Novas roupas, mesmo cheiro. Mesmos hábitos, velho amor.
Continuou caminhando firme, olhando apenas algumas vezes para trás. O prédio branco foi diminuindo. O céu cinza foi aumentando. O peito ficou tão encharcado que já não sabia mais se chovia do lado de dentro ou do lado de fora.
Sentou-se no meio fio e pegou o bloquinho de notas. Fez um emaranhado de linhas fortes, quase rasgando o papel. Rabiscou bem fundo: nunca mais, nunca mais, nunca mais.
Arrancou o moletom do corpo tentando se livrar do cheiro acusador. Fechou os olhos e inspirou infinito. Pediu por novos ares, novo corpo, nova vida. Se lembrou do livro favorito e soube que era mesmo alagoana. Só sabia chover.
Mais tarde pegaria um táxi, subiria as escadas e giraria a chave. Desfilaria pelo apartamento vazio, ligaria o chuveiro, a água escorreria pela pele e lavaria a alma. Sairia envolta pelo vapor e abriria a porta. Ele estaria lá. Seus olhos estariam tão transbordantes que a fariam chorar outra vez.
Mesmo seca, choveria de novo. Compraria um bloquinho e outro moletom. Novas roupas, mesmo cheiro. Mesmos hábitos, velho amor.
domingo, 26 de setembro de 2010
Sabe o que mais me entristece sobre a morte? Tudo.
Parece que alguma coisa aperta o meu coração com as duas mãos e eu começo a me afogar. Essa descrição sem sentido é a melhor que eu consigo encontrar. Acabou. Não importa quantas teorias do descanso eu ouça, só consigo acreditar no Jim Morrison. "This is the end, my dear friend". E nada mais faz sentido. Se alguém diz que sente muito, não me diz nada, porque quem sente muito sou eu. Eu é que tenho uma coleção de vidas perdidas dentro do armário e, ainda assim, nunca me senti mais hábil a lidar com isso. O que não me mata não me fortalece. Sempre fico tão perdida que parece que alguém apagou a minha luz, e aí me irrita o fato de que o mundo dos outros continua claro e em movimento. Me parece injusto.
Miss you, buddy.
Parece que alguma coisa aperta o meu coração com as duas mãos e eu começo a me afogar. Essa descrição sem sentido é a melhor que eu consigo encontrar. Acabou. Não importa quantas teorias do descanso eu ouça, só consigo acreditar no Jim Morrison. "This is the end, my dear friend". E nada mais faz sentido. Se alguém diz que sente muito, não me diz nada, porque quem sente muito sou eu. Eu é que tenho uma coleção de vidas perdidas dentro do armário e, ainda assim, nunca me senti mais hábil a lidar com isso. O que não me mata não me fortalece. Sempre fico tão perdida que parece que alguém apagou a minha luz, e aí me irrita o fato de que o mundo dos outros continua claro e em movimento. Me parece injusto.
Miss you, buddy.
quinta-feira, 23 de setembro de 2010
Primavera
Não consigo explicar o que eu sinto quando começa a primavera. Só sei que acho que estou num daqueles desenhos da Disney, com todos os passarinhos da cidade me ajudando a arrumar a casa. Acontece que, ao invés daqueles montes de "A's", eu tenho vontade de cantar Casa Pré-fabricada.
"Abre essa janela, a primavera quer entraaar
Pra fazer da nossa voz uma só nooota" ♪
"Abre essa janela, a primavera quer entraaar
Pra fazer da nossa voz uma só nooota" ♪
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
domingo, 19 de setembro de 2010
sábado, 18 de setembro de 2010
Surpresa
Sempre me pega de surpresa. Da primeira vez, estava lá com os amigos. Se apresentou e me viu corar em segundos. Nem percebi que tinha dito em alto e bom som:
- O quê? Esse é o teu nome?
Era um nome tão estranho...
Ele riu com tanta calma que parecia querer me abraçar e dizer bem baixinho:
- Tá tudo bem.
Da segunda vez, o vi naquela fila imensa. Meus olhos brilharam forte.
- Olha! Eeeei, olha! Aquele menino parece o Victor Bagy!
E parecia mesmo. Mas não percebi que era o menino do nome estranho. Tiveram que me contar. E aí já não me parecia mais tão conveniente chegar e dizer "oi, como vai?".
Deixei passar.
Da terceira vez, sentou-se ao lado de uma garota. Sentei-me logo atrás e tentei descobrir se era ele por cima dos ombros e pelo reflexo da janela. Quando constatei, senti um frio entre o estômago e o coração. Não entendi o porquê.
Ele sorriu com a mesma calma de sempre, mas não pra mim. Depois colocou as mãos em cima do caderno da menina e explicou o cálculo. Não sei se tudo ficou tão complicado por causa dos números ou por causa do metal no anelar da mão direita.
- Ai!
Doeu. Falei com ele uma só vez e, de repente, doeu. Acho que foi porque o meu nome não estava lá, arranhado no metal polido. Ou porque não era mais eu quem se sentava ao lado. Só sei que me pegou de surpresa, usando o meu tipo de cachecol preferido, e doeu.
- O quê? Esse é o teu nome?
Era um nome tão estranho...
Ele riu com tanta calma que parecia querer me abraçar e dizer bem baixinho:
- Tá tudo bem.
Da segunda vez, o vi naquela fila imensa. Meus olhos brilharam forte.
- Olha! Eeeei, olha! Aquele menino parece o Victor Bagy!
E parecia mesmo. Mas não percebi que era o menino do nome estranho. Tiveram que me contar. E aí já não me parecia mais tão conveniente chegar e dizer "oi, como vai?".
Deixei passar.
Da terceira vez, sentou-se ao lado de uma garota. Sentei-me logo atrás e tentei descobrir se era ele por cima dos ombros e pelo reflexo da janela. Quando constatei, senti um frio entre o estômago e o coração. Não entendi o porquê.
Ele sorriu com a mesma calma de sempre, mas não pra mim. Depois colocou as mãos em cima do caderno da menina e explicou o cálculo. Não sei se tudo ficou tão complicado por causa dos números ou por causa do metal no anelar da mão direita.
- Ai!
Doeu. Falei com ele uma só vez e, de repente, doeu. Acho que foi porque o meu nome não estava lá, arranhado no metal polido. Ou porque não era mais eu quem se sentava ao lado. Só sei que me pegou de surpresa, usando o meu tipo de cachecol preferido, e doeu.
quarta-feira, 15 de setembro de 2010
Só a imortalidade explica
Os dicionários invariavelmente definem o substantivo “grêmio“ com uma só frase. Os mais tradicionais costumam afirmar que se trata de um “grupo de pessoas reunidas em torno de um mesmo objetivo”, o que torna tudo muito simples e didático, porém, insuficiente se falarmos do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense.
Para os que amam o manto azul, preto e branco, definir o Grêmio é uma tarefa árdua. O time pelo qual mais de sete milhões de corações torcedores batem por todo o país desafia a lógica e a racionalidade. Há quem diga que Grêmio é sentimento. Há quem diga que é doença. Há quem diga que é tudo e mais um pouco, porque pensar no tricolor gaúcho é pensar na imensidão.
O Grêmio nasceu em 1903. No mesmo ano morreu o pai de Hitler, nasceram George Orwell e Candido Portinari, as mulheres abusaram do tom pastel e a primeira versão cinematográfica para Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll, foi produzida.
Só nasci 88 anos depois e ainda levei mais quatorze anos para provar da imortalidade pela primeira vez. Quando se é criança, as coisas não fazem muito sentido. O que é uma partida de futebol? 22 homens correndo atrás de uma bola? Só pude compreender no dia em que 22 viraram 18.
Era 26 de novembro, fazia sol e a batalha acabara de começar. As camisas azul-celeste estavam todas lá cumprindo a promessa: com o Grêmio, onde estiver o Grêmio. A bola rolou e, se ficava por muito tempo nos pés do adversário, até ateu rezava. Todo mundo parecia implorar pra Deus ser gremista naquele dia. No campo os jogadores pareciam sufocados. Só não se sabia se era por causa do presente da casa - a tinta fresca com querosene e gasolina no vestiário - ou porque o campeão do mundo estava na segunda divisão.
A tarde foi marcada por duas penalidades máximas contra o Grêmio. A primeira foi parar na trave do goleiro Galatto. A segunda foi adiada por mais de 25 minutos pelos jogadores desesperados que guerreavam. Sandro, o capitão, parou em cima da marca do pênalti, tentando evitar o inevitável. Era final de segundo tempo e um gol do adversário condenava os gaúchos por mais um ano, mas o gol nunca foi marcado. Galatto defendeu dessa vez e Anderson ainda cuidou do placar. 1x0. O narrador gritava: “Inacreditável! Você acredita em milagres?”
O jogo que posteriormente ficou conhecido como “A batalha dos aflitos” só acabou aos 60 minutos do segundo tempo. O Grêmio, mesmo com quatro jogadores expulsos, foi campeão e até se poderia dizer que, nesse momento, voltou a ser grande, mas isso seria um erro: o Grêmio nunca se permitiu ser pequeno. Pelo contrário, nada pode ser maior. Meu coração passou a ter três cores.
Desse modo posso dizer que já nasci campeã do mundo. Portaluppi cuidou disso pra mim em ’83, quando eu ainda nem pensava em vir ao mundo. Hoje, me orgulho em torcer pelo time que completa 107 anos de glórias. Parabéns, imortal. Como diria o escritor gaúcho Felipe Sandrin, “é pequeno o detalhe de o meu sangue ser vermelho. Diante do céu e do mar, é azul o mundo inteiro”. Azul celeste.
quarta-feira, 8 de setembro de 2010
07/09
Não gosto do dia sete de setembro. Quando algum infeliz fala em tal feriado, parece que começa a chover dentro do meu cérebro. E ainda tem o oito de setembro, dia da padroeira de Curitiba, que vem no pacote cinza. É depressão pro resto do mês.
Não importa o que você faça, sempre vai ter cheiro de cloro ou areia molhada. Pode até comprar um pacote pra Fortaleza e ficar feliz porque o sol brilhou bem forte a semana toda - o sete de setembro vai te deixar mais murcho que flor de ipê na calçada.
Não importa o que você faça, sempre vai ter cheiro de cloro ou areia molhada. Pode até comprar um pacote pra Fortaleza e ficar feliz porque o sol brilhou bem forte a semana toda - o sete de setembro vai te deixar mais murcho que flor de ipê na calçada.
terça-feira, 7 de setembro de 2010
DR
- Estou cansada de você.
- É Isso?
- É.
(...)
- Como?
- Você me cansa, oras. Eu sempre preciso te dizer o que fazer. Eu te digo como segurar a minha mão, onde me levar, do que me chamar...
- Hm.
- "Hm"???? Inacreditável! Essa é a sua resposta?
- É.
- Mas não deveria ser.
(pausa para os risos)
(pausa para a fúria)
- O que foi agora?
- É por isso que, ao contrário de você, eu estou tão relaxado. Não preciso pensar. Não preciso pensar e não preciso perguntar. Você vai dizer de qualquer modo...
- Acho que chegamos à conclusão de que você não se importa.
- Acho que chegamos à conclusão de que você está cansada de você mesma.
- É Isso?
- É.
(...)
- Como?
- Você me cansa, oras. Eu sempre preciso te dizer o que fazer. Eu te digo como segurar a minha mão, onde me levar, do que me chamar...
- Hm.
- "Hm"???? Inacreditável! Essa é a sua resposta?
- É.
- Mas não deveria ser.
(pausa para os risos)
(pausa para a fúria)
- O que foi agora?
- É por isso que, ao contrário de você, eu estou tão relaxado. Não preciso pensar. Não preciso pensar e não preciso perguntar. Você vai dizer de qualquer modo...
- Acho que chegamos à conclusão de que você não se importa.
- Acho que chegamos à conclusão de que você está cansada de você mesma.
sexta-feira, 3 de setembro de 2010
Waiting...
Embaçou os olhos ainda mais depois de tanto apertá-los. Achava que poderia parecer vulnerável se piscasse e admitisse que guardava lágrimas pelos cantos dos globos oculares. Dói demais deixar rolar. É mais fácil esconder dentro da gaveta e assim o fez. Cento e oitenta graus na chave, um coração protestante e uma mão trêmula que lançava o objeto de metal para longe da vista. Ficou tudo lá, com durex laranja no buraco da fechadura. É proibido escorrer. É proibido lembrar.
Sabia que no fundo o restante da espécie agia da mesma forma. Ainda se lembrava do jardim de infância, das crianças rodando, perdendo o equilíbrio e comprimindo o choro de tanta autocompaixão. Tomava como consolo, embora nunca houvesse compreendido. Mas as crianças choravam porque outros olhos as flagravam. Ossos no asfalto são nada perto daquilo que não tem corpo físico. Palavras e risos é que matam. Eles saem pelos lábios desses seres humanos tão peculiares que se divertem às custas da pele ralada. Os mesmos que fazem justiça parecer só mais uma palavra sem cabimento criada para o vocabulário cristão.
Lamentou e sentiu a terra girar. As cores mudaram, os olhos pesaram e as antigas lágrimas agora pareciam areia escondida atrás das pálpedras. Sonhou com um campo cheio de gangorras, dois balões coloridos e algumas outras crianças. No sonho exitou mas logo correu. O subconsciente sabia que o mundo era doce demais para ser disperdiçado. Só é feliz quem tem cicatriz no joelho. Ela sabia disso. Sabia tanto que colocou o velho disco pra tocar.
"Mantenha a sua cabeça erguida.
Não precisa de pressa.
Estamos todos esperando, esperando para morrer."
Sabia que no fundo o restante da espécie agia da mesma forma. Ainda se lembrava do jardim de infância, das crianças rodando, perdendo o equilíbrio e comprimindo o choro de tanta autocompaixão. Tomava como consolo, embora nunca houvesse compreendido. Mas as crianças choravam porque outros olhos as flagravam. Ossos no asfalto são nada perto daquilo que não tem corpo físico. Palavras e risos é que matam. Eles saem pelos lábios desses seres humanos tão peculiares que se divertem às custas da pele ralada. Os mesmos que fazem justiça parecer só mais uma palavra sem cabimento criada para o vocabulário cristão.
Lamentou e sentiu a terra girar. As cores mudaram, os olhos pesaram e as antigas lágrimas agora pareciam areia escondida atrás das pálpedras. Sonhou com um campo cheio de gangorras, dois balões coloridos e algumas outras crianças. No sonho exitou mas logo correu. O subconsciente sabia que o mundo era doce demais para ser disperdiçado. Só é feliz quem tem cicatriz no joelho. Ela sabia disso. Sabia tanto que colocou o velho disco pra tocar.
"Mantenha a sua cabeça erguida.
Não precisa de pressa.
Estamos todos esperando, esperando para morrer."